Venezuela – Realizou-se o 2º Congresso da Juventude Socialista Revolucionária nos dias 5 e 6 de novembro

Portuguese translation of Venezuela - 2nd congress of the Revolutionary Socialist Youth held on November 5 and 6 by Andreas Bülow in Caracas (November 9, 2005)

Nos dias 5 e 6 de novembro, cerca de 20 camaradas jovens participaram do 2º congresso da JSR - Juventude Socialista Revolucionaria. O congresso, que se realizou em Barquisimeto(a), refletiu otimismo e representou um grande passo  avante no trabalho que os camaradas estão realizando para construir a organização em todos os níveis.

A JSR é uma organização que foi  criada em junho de 2005, em razão da existência na Venezuela de vários grupos juvenis revolucionários, basicamente  funcionando a nível local ou regional. Mas, até agora, nenhum deles conseguiu firmar-se como ponto de referência no movimento juvenil de abrangência nacional, arregimentando  as vanguardas nas universidades, nas fábricas etc. e norteada por um programa marxista. Desta forma,  a JSR formou-se para preencher uma lacuna.

A JSR foi fundada principalmente  por dois grupos, o CMR (Corrente Revolucionária  Marxista)  e a FAR (Frente Rebelde Americana). A CMR é a ala  marxista do Movimento Bolivariano, atuando nas fileiras operárias e juvenis,  para difundir idéias socialistas e fazer avançar o processo  revolucionário no sentido da expropriação da classe capitalista e da estruturação de um regime de  democracia operária.

A FAR é um grupo sediado em Barquisimeto e atuando nas universidades,  colégios etc. Estes camaradas publicam um boletim mensal, o Alba Estudantil, que é distribuído amplamente entre os jovens de Barquisimeto. A edição de outubro trouxe um editorial que terminava com as palavras “Por uma Venezuela socialista - nós lutamos para vencer!”  com o retrato de Trotstky na primeira página como arremate.

A JSR tem atraído para sua bandeira camaradas de Mérida, Tachira, Ciudad Bolívar e Falcao, mas infelizmente eles não puderam comparecer ao congresso   por falta de transporte, recursos financeiros etc. O projeto ainda está aberto a todos os grupos e indivíduos que queiram lutar em defesa da Revolução e pela transformação socialista na Venezuela e internacionalmente.

Não é um fenômeno isolado

A primeira sessão do congresso foi aberta pelos camaradas Calos Mogollon e Pedro Jimenes, que falaram sobre a situação internacional. Enfatizaram que a Revolução Bolivariana não é um fenômeno isolado, mas um produto da crise geral que o capitalismo enfrenta em escala mundial. As enormes contradições entre ricos e pobres está acelerando o processo.  Fato é que o governo do país mais rico do mundo, os Estados Unidos, não pode nem ao menos fazer um esforço decente para ajudar as vítimas do terrível desastre do Katrina demonstra o impasse em que se encontra metido o sistema. Revela também que não podem nem menos  administrar o próprio país.

De outra forma, o imperialismo estadunidense é também incapaz de dominar um país que ocupou, isto é, o Iraque. ´Por lá, nada em absoluto foi resolvido e a heróica luta da resistência popular iraquiano continua.

Na discussão foi também evidenciado que uma das razões por que o imperialismo americano é incapaz de direcionar toda  sua atenção para eliminar o processo revolucionário na Venezuela é que ele está de mãos e pés atados no Iraque.

A revolução venezuelana é um fanal para todos os povos oprimidos  da América Latina e do mundo, mas ao mesmo tempo enfatiza-se que, embora tenha suas próprias peculiaridades, a Revolução Bolivariana tem muito em comum com outras revoluções e é importante estudar todas elas a fim de aprender com as lições da  história.

Organizar a vanguarda para lutar contra aa burocracia

A sessão seguinte tratou das perspectivas para a revolução venezuelana propriamente dita. Em seu discurso, Juan Marchán, recém-eleito secretário-geral da JSR, acentuou que  as eleições vindouras para a Assembléia Nacional, em dezembro deste ano, são de vital importância. Os revolucionários têm o deve de  delas participar, apoiando o Movimento Bolivariano, mas ao mesmo tempo defendendo a idéia de que uma vitória nestas eleições poderia ser aproveitada para fazer avançar a revolução: expropriar os capitalistas,  nacionalizar a economia e conduzir o processo,  transformando-o num sistema de planejamento democrático.

Além disto, ele  enfatizou que a revolução agora deve lutar internamente contra tendências burocráticas. A  burocracia tenta consolidar-se dentro do movimento  mas vem encontrando a firme resistência da ala revolucionária. Neste contexto, é crucial desenvolver e ampliar uma rede de assembléias em cada fábrica, universidade, escola etc., a fim de criar-se um poder alternativo que possa substituir o velho estado burguês. Com objetivo em vista, a vanguarda do  movimento deve ser organizada de uma forma consciente no intuito de empreender a luta contra a burocracia e por uma democracia popular.

Os trabalhadores avançam

Uma sessão particular e importante estudou o movimento de ocupação de fábricas. Esta parte do encontro foi conduzida por Jorge Martin,  secretário-geral da campanha Tirem as Mãos da Venezuela e liderança marcante da Tendência Marxista Internacional. Jorge Martin relatou a primeira reunião latino-americana de fábricas recuperadas por trabalhadores. Frisou que era significativo o fato de o governo venezuelano acolher e apoiar ativamente essa reunião quando todos os demais governos na América Latina se negaram a fazê-lo. Deste modo, o governo Chavez está ampliando sua popularidade aos olhos dos trabalhadores do continente.

As discussões no decorrer da reunião concentraram-se em torno do slogan “cooperativas versus nacionalização”. Trabalhadores do Brasil levantaram o problema da nacionalização. Jorge Martin afirmou que os marxistas consideram o controle dos trabalhadores e as ocupações uma ação acima de tudo  militante na luta de classes, atitudes demonstrativos de que os trabalhadores podem administrar as fábricas sem os patrões. Em muitos casos, os trabalhadores explicaram nas reuniões como a produção se elevou sob seu controle                                                  precisamente porque os trabalhadores sabem mais bem administrar e realizar as várias operações mecessária. Contudo, observou Jorge Martin, para os marxistas, segundo explicou Trotsky, manter o controle  operário sob o capitalismo apenas pode significar uma fase transicional. Se não é uma prática econômica generalizada por todo o país, e seu planejamento não se estrutura de forma consciente, os casos de controle operário permanecerão isolados e podem ser absorvidos pelo sistema capitalista. Daí porque o slogan  em prol de cooperativas é falso, na medida em que separa os trabalhadores nelas envolvidos do resto do movimento dos trabalhadores e efetivamente os transforma em proprietários individuais das fábricas.

Pelo contrário, os marxistas argumentam  que as grandes fábricas e empresas devem ser nacionalizadas - sob controle operário - como parte de uma economia planificada democraticamente dirigida pela classe operária como um todo.

Ao final de seu discurso, Jorge Martin realçou que em geral o encontro que a classe trabalhadora na Venezuela avança rapidamente como força independente e está dando novo impulso ao processo revolucionário, fator vital ao encaminhamento para uma vitória decisiva.

Desenvolvendo a JSR

Houve também partes do encontro devotadas à construção da JSR. Desde seu congresso de fundação, a entidade tem-seHouve  também algumas

 envolvido em vários eventos importantes. De 20 a 23 de julho ela interveio num encontro de jovens realizado em Mérida para discutir a “construção do socialismo no século 21”. Em agosto,  tomou parte maciçamente no Festival. Mundial de Estudantes e Jovens distribuindo milhares de folhetos e organizando encontros públicos com o teórico marxista britânico  Alan Woods. Ao mesmo tempo, a JSR participou da valiosa luta estudantil dos “estudantes não admitidos” em Barquisimeto. O fato constitui um bom exemplo do método de que se vale a JSR, recorrendo à mobilização das massas populares em torno de questões concretas.

A JSR tem apoiado ativamente as lutas dos trabalhadores, tais como   os camaradas da fábrica da Parmalat, publicou folhetos e também artigos no El Topo Obrero, o jornal do CMR e no Alba Estudantil, o periódico de várias escolas e colégios, e formou células do JSR que se reúnem regularmente.

Nas discussões organizacionais tem-se enfatizado que a JSR deve começar a atuar no meio juvenil da classe operária e particularmente na seção juvenil da União Nacional dos Trabalhadores da Venezuela - UNT. A juventude representa uma das camadas mais exploradas da classe operária, labutando nas mais miseráveis condições possíveis. No seio deste estrato social, encontram-se, todavia, os mais dedicados militantes.

O congresso aprovou, com algumas emendas, um programa político que enfatiza constituir a JSR uma organização baseada nas idéias de Marx, Engels, Lenine e Trotsky,  aberta a todos os jovens que aceitarem seu programa e  desejarem lutar por uma revolução socialista na Venezuela e no âmbito internacional. O II Congresso da JSR que adotou uma plataforma política, com seu entusiasmo deu claramente um grande passo  avante. Agora a tarefa consiste em organizar e estender a JSR a todas as escolas e universidades, igualmente às fábricas e  a outros locais de trabalho.

Caracas, 7 de novembro de 2005.  


Tradução de Odon Porto de Almeida. Esta tradução e seu original - Venezuela - 2nd congress  of the Revolutionary Socialist Youth  held on Noember 5 and 6 -circulam no website http://www.marxist.com

N. do tradutor  - a) Capital do estado de Lara. Em 1990, contava com 23.587 habitantes. b)  Notável e prolífico  autor marxista britânico da corrente trotskista. Nasceu em 1944. Graduou-se na Universidade de Sussex (Inglaterra), em Sofia (Bulgária) e na Universidade Estatal de Moscou. Nos últimos 35 anos também tem atuado como jornalista. Autor de 14 livros, dois dos quais em co-autoria com  o Ted Grant, outro autor marxista britânico.