Treze dias de paralisação na Colômbia: o povo resiste ao narcoterrorismo de Iván Duque

Depois de lograr a renúncia de Alberto Carrasquilla, ministro da Fazenda, e depois da retirada da reforma tributária, a Paralisação Nacional já conta com 13 dias de luta e o movimento continua vivo nas ruas. Seus pulmões não cedem, estão cada vez mais cheios de ar e força. De nada serviram os ataques realizados pelo governo, buscando liquidá-lo, pois, a cada ferida ou mutilação nova, sua raiva aumenta, sua consciência cresce e sua determinação se concentra. É um movimento tomado pela energia da mudança que se fortalece com a dignidade que quiseram lhe arrebatar.


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Naturalmente, isto também implica em cansaço. A cada dia um aprendizado novo e a luta física também cansa. Os dias começam a gerar novas experiências, mas, ao mesmo tempo, consomem energia. Sem falar do mal-estar e da dor que os companheiros caídos deixam. A falta de direção e o oportunismo também cansam. É por isso que, apesar de sua perseverança, seu vigor foi diminuindo, colocando tudo em uma espécie de plataforma que deu tempo ao movimento para ganhar experiência e maturidade. Está na hora de aproveitar isso.

Foi exatamente isto que a reação utilizou para mostrar com maior descaramento seu rosto canalha e assassino, avançando sem piedade. No entanto, a estrutura política do governo é tão débil que perdeu toda credibilidade, o que o obrigou a abrir espaços de diálogo, estabelecidos à sua maneira, para tratar de acalmar os ânimos. Naturalmente, ainda é incapaz sequer de reconhecer seus verdadeiros adversários e menos ainda de enfrentá-los cara a cara.

Assim, o pulso continua ativo e o equilíbrio de forças está a favor da maioria, ainda indecisa em dar o passo definitivo. O que venha a acontecer nos próximos dias será determinante e o aprendizado, necessário. Quaisquer que sejam as classes desfavorecidas, sobretudo a classe trabalhadora, já ganharam bastante e, com certeza, seguindo este caminho, saberão como chegar à vitória.

Os dias vão passando

Esta foi uma semana histórica. A paralisação avança e o governo tenta tudo o que pode para criar obstáculos. Por exemplo, a tentativa de retomar a liderança por parte do Comitê de Paralisação e a reunião com os oportunistas do Movimiento Obrero Independiente y Revolucionario (MOIR) – uma tendência do Polo Democrático Alternativo – e da Aliança Verde. Há também as tardias e hipócritas tentativas de diálogo por parte do governo, a continuação da repressão com novos atores no cenário (agentes policiais à paisana, paramilitarismo, censuras cibernéticas, disparos indiscriminados, alianças com a lúmpen) e negociações internas com os diferentes grêmios para separá-los e dividi-los. Tentativas daninhas, mas ineficazes.

Até o momento foram 47 assassinatos, 963 detenções arbitrárias, 548 desaparecidos e 12 fatos de violência sexual surgidos dos 1.876 casos de violência por parte da Força Pública, informados pela ONG Temblores. Todos se tornaram combustível para manter aceso o fogo da indignação popular. Segundo a mesma ONG, todos os dias houve mortos, menos no dia 5 de maio, quando a marcha foi maior e, na noite anterior, fizeram uso de todo o seu arsenal para assustar a população e evitar que marchassem. Esse foi o dia em que feriram Lucas Villa, que está entre a vida e a morte. Apesar disso, a violência foi menor do que em outros dias, o que demonstra como as massas unidas despertam o medo de seus opressores.

Embora nos últimos dias o número de manifestantes tenha diminuído, a consciência começa a se radicalizar; isto, em boa medida, resulta da estratégia desajeitada e violenta do Estado colombiano que conhece, como único método, a barbárie absoluta. O ânimo fervilhante ameaça levar-nos a cenários mais violentos e de confrontação, mas duvidamos que as forças do governo tenham como resistir mais ou algo para oferecer. Sobretudo, demonstraram que carecem de qualquer possibilidade de contar com algum apoio de massas, como o demonstram suas limitadas manifestações. Na mais numerosa delas, em Cali, antes de que fosse desencadeado o massacre contra o povo, ontem, dia 9, era difícil encontrar alguém com menos de 40 anos de idade em meio a essa quase uma centena de indivíduos. Realmente, o movimento só espera o sinal para responder ou se organizar. Mas isto não virá das nuvens.

Ao contrário de seus propósitos, com seus crimes, o governo impulsionou o início da construção da unidade da maioria indignada. Não o percebem, nem o esperam. Ainda confiam em que têm razão ao nos crer incapazes. Sim, é nesses setores da sempre ignorada juventude, nos bairros onde não há Toyotas zero km, onde se discutem as ideias sobre a defesa e se põe em questão os problemas importantes.

O caso de um caminhão cheio de policiais à paisana em Cali exemplifica os métodos mafiosos do governo. Aqueles, vestidos de civis e armados, tentaram emboscar uma mobilização, mas saíram correndo depois que foram encurralados pelos manifestantes, que foram defendidos por alguns soldados que estavam presentes. Esta ação covarde foi a mesma com outros infiltrados capturados pela Minga [movimento de reivindicações dos indígenas colombianos] ou descobertos pelas mobilizações em Bogotá. Nas redes sociais pôde-se ouvir, graças a Anonymous, as comunicações destes agentes, assustados e perplexos fugindo do povo. O medo de todos estes canalhas é mais que evidente. Sua falha de mobilização os levou a ter que oferecer dinheiro através Twitter para recrutar assassinos.

Enquanto isso, surgem expressões de apoio por parte de alguns soldados. Inesquecível a de um soldado que fez a pergunta há alguns dias: “Com quem você está, com o povo ou com o governo?” No vídeo, deixa claro que não levanta as armas contra o povo. O movimento respondeu com certo ceticismo a estas situações e se entende a razão. Estamos habituados com o fato de que a tarefa do Exército e da Polícia é a repressão e a defesa dos interesses da classe dominante. O certo é que, todo aquele que queira se aproximar desta luta, inteiramente popular, realmente de massas, não tem outra opção além de pedir permissão a ela antes de entrar e acompanhá-la. No caso citado, entregar as armas e ensinar como usá-las poderia gerar confiança.

Neste sentido, foi decepcionante a atitude do Comitê de Paralisação que aceitou se reunir hoje, segunda-feira, dia 10, com o governo. Uma atitude oposta à de um povo que tem claro que não está disposto a parar até que caia o governo de Duque e do ex-empregado de Pablo Escobar e filho do narcotraficante Alberto Uribe Sierra, Álvaro Uribe Vélez. Para o bem ou para o mal, o único destes chefes tradicionais que mostrou coerência foi Gustavo Petro. Embora por esta coerência não chegue à análise correta, é de se respeitar que não caia no oportunismo que caracterizou a maioria dos chefes tradicionais da esquerda e do sindicalismo.

Até agora, a derrota mais dura foi o ataque que a Minga Indígena sofreu no domingo, dia 9. Cumprindo uma ordem de Uribe, logo replicada por Iván Duque, a ação de elementos do narco-paramilitarismo, em conivência com a Polícia Nacional, se traduziu no assassinato indiscriminado de indígenas que se manifestavam pacificamente. Os delinquentes, acreditando-se como alguma força com legitimidade, ulularam: “Guerra civil”. Não há isto. As imagens, os testemunhos e os resultados mostram um operativo de repressão terrorista avançado com o apoio do Estado e em favor dos interesses do narcotráfico e do setor financeiro. Testemunhos de uma caminhonete do Banco do Ocidente nas mãos de narco-paramilitares, evidenciam que a aliança entre a burguesia financeira e as máfias é total. Outra péssima decisão do clã Sarmiento Angulo: suas ações, que caíram a US $ 5,38 na terça-feira, subiram hoje apenas a US $ 5,95. Mas o que pedir a mais de um engenheiro fracassado que se transformou em ladrão de casas e em especulador?

As imagens são assustadoras. Como se fosse pouco, chegaram a sabotar uma entrevista coletiva da Guarda Indígena e o lançamento do vídeo musical de seu hino durante a noite. Mas, apesar do medo de alguns, a força não vacila. Se as ações são menos audazes, é porque as soluções estão sendo discutidas. Sabe-se que se necessita de uma resposta organizada, intui-se que esta organização é urgente. Continua faltando uma direção.

Nosso futuro está no presente

As perspectivas para o futuro são duvidosas e faríamos mal em tirar conclusões apresadas. O que sim é seguro é que a consciência do povo, depois de 12 jornadas de luta, é outra. Este é o melhor fundamento que poderíamos ter se tudo isto passar para uma situação revolucionária.

O Ministro do Trabalho diz que sua principal preocupação são os 20 bilhões de pesos diários que perdem com a paralisação, e é aí onde deveriam ser pressionados. O que mais os assusta é perder dinheiro, mesmo mais que perder o poder. Esta situação de insolvência foi a razão para que se intensifique a divisão dentro da elite. Com tudo isto e com as tentativas da ANDI (a burguesia industrial) de ampliar seu apoio econômico ao presidente e às Forças Públicas, enquanto posa de negociadora, o fato é que sua autoridade perdeu crédito entre seus associados e começam a recuar.

É eloquente que a chanceler Claudia Blum, que na manhã do domingo publicou um vídeo fake condenando as mobilizações e apontando o dedo para Petro, tenha se visto literalmente obrigada, no final do dia, a deixar o cargo devido à pressão dos trabalhadores daqui e de todos os países. A Revista Semana, um antigo bastião do jornalismo decadente após sua aquisição por parte do clã Gilinski, tentou sugerir que esta crise partiu do último conselho de ministros. A verdade é que desde que a propagandista do narco-paramilitarismo, Vicky Dávila, membro do clã Gnecco, assumiu a direção dessa publicação, sua credibilidade é inferior à de qualquer tabloide sensacionalista.

É um golpe duro, visto que a senhora Blum deixa o cargo que obteve logo depois que seu esposo, José Barberi Ospina, fosse um dos mais destacados investidores da campanha de Iván Duque à presidência. Seu irmão, Juan Manuel, também colocou dinheiro. Francisco José Barberi Ospina é o presidente de Tecnoquímicas, um gigante farmacêutico que, nos anos 1980, controlava os traficantes Rodríguez Orejuela, os chefes do Cartel de Cali. Ele, por sua vez, participou do cartel do papel higiênico e foi sancionado por isso há cinco anos. Não é uma renúncia desprezível. É uma parte da burguesia que lava ativos do narcotráfico e que perde parcelas do poder político. Assim, em doze dias de paralisação, o povo logrou tirar do poder dois ministros nefastos. Agora, temos que ir pelo gordo, ou pela porca, como diriam alguns.

Esta manhã [10 de maio] começou com o apelo por mais mobilizações e diversos setores do proletariado se reúnem em assembleias extraordinárias. Alguns avaliam desobedecer ao Comitê de Paralisação e promover a cessação total das atividades. Diversos conselhos populares e comitês de base começam a propor ideias. Esta iniciativa deve ser mantida e há que que levá-la até um grande encontro nacional de todos os conselhos que surjam da iniciativa do povo. Este há de ser o único órgão de poder que devemos reconhecer.

Entretanto, é necessário manter a luta, convocar todos os companheiros que possamos convocar a partir da questão de se está com o povo ou com o governo, de nos apoiarmos nos conselhos que organizem o povo e pedir a eles que desenvolvam estratégias de defesa, aproveitando as lições dos indígenas e dos soldados sublevados. Junto aos trabalhadores mais conscientes e mais dispostos a se comprometer em termos de tempo e energia, devemos impulsionar a criação de um partido próprio, de um partido operário. Todas as forças políticas da burguesia caíram no descrédito. É o nosso momento de oferecer à Colômbia a alternativa do socialismo. Tal como ensinaram aqueles soldados sublevados:

  • Todo apoio ao povo!
  • Fora Duque!
  • Manter a paralisação!
  • Ouçamos os Conselhos Populares!

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