A Situação Política Mundial e a Revolução na América Latina sob a ótica de um marxista Portuguese Share Tweet Segue a transcrição de uma palestra ministrada por Alan Woods, dirigente Internacional da Corrente Marxista Internacional (CMI), promovida em Joinville, recentemente. Estamos vivendo importantes momentos da história da humanidade. Há momentos que ocorrem mudanças fundamentais na nossa história. Atualmente, estamos vivendo momentos como estes. Há 15 anos, os defensores do capitalismo estavam contentes falando do fim da história, do fim do marxismo, do socialismo. Há 150 anos eles tentam nos enganar. Quando caiu o muro de Berlin e ocorreu a Perestroika, há 15 anos atrás, o que nos prometeram? Paz, prosperidade. O capitalismo havia vencido. Depois destes 15 anos afirmamos: hoje em dia não há pedra sobre pedra destas falsas promessas. Basta ver as noticias da TV para enxergar a autentica situação do capitalismo: além de guerra e mais guerra, há o terrorismo, uma praga medieval. Quais são as características mais fundamentais de nossa época? Turbulências, convulsões, crises nos níveis econômicos, financeiros e políticos. No mercado de moedas o dólar cai; nas bolsas de valores o nervosismo predomina, assim como nas relações entre as grandes potencias. Os movimentos sociais, em geral pequenos burgueses, tais como: ecologistas, pacifistas, feministas, denunciam certos aspectos da situação, mas são incapazes de entender a natureza dos fenômenos que estamos vivendo. Só o marxismo explica cientificamente. Eles só enxergam os sintomas, mas não a natureza dos fenômenos. Só o marxismo explica a natureza dos sintomas, o mal de fundo, o beco sem saída do sistema capitalista. O marxismo se baseia no processo de longo prazo da história. A classe dominante tem que manter e distorcer a história para apagar da memória e da consciência do povo trabalhador. Mentem descaradamente sobre Lênin e Trotsky. Querem apagar a memória para as novas gerações. Esses inimigos cooptaram aliados dentro do movimento operário. Lutas e revoluções são raras na história. Esta é a primeira década do século XXI. A ciência e a tecnologia fizeram milagres: o homem foi à lua, o homem quer ir a Marte. Vemos potencias produtivas e tecnológicas capazes de resolver todos os problemas da humanidade, no entanto, oito milhões morrem todos os anos sem nenhum recurso para se manter vivo. Onde está a prosperidade e a paz que os capitalistas prometeram? Os EUA gastam 500 bilhões de dólares por ano para gastos com armamento bélico. Este dinheiro servia para resolver os problemas mundiais. No entanto, serve para destruir o Iraque. Isto no momento que se afirma existir um "boom econômico", mas na Europa há 10% de desemprego. Dizem que não há mais luta de classes, que na população não há mais descontentes. Mas como o povo poderia estar contente, se a burguesia destroe tudo o que construiu. Há 30 anos atrás o reformismo tinha uma certa lógica. A burguesia permitia algumas concessões. A saúde, por exemplo, era gratuita para todos na Europa. Hoje, na Grã-Bretanha, todos os anos morrem 30 mil pessoas, porque os hospitais são descuidados, sujos. Isto é insólito. A educação universitária tem que ser paga. A burguesia está retirando tudo que concedeu ao longo dos séculos, através da luta da classe trabalhadora. O descontentamento predomina em toda Europa. Na França, a juventude imigrante e negra discriminada toca fogo nos carros. A responsabilidade é de quem? Dos dirigentes sindicais que não construíram uma saída. O desemprego na França é de 10%. Dos jovens é 20%. Dos imigrantes é de 50%. Há uma situação explosiva em toda Europa. Na França ocorre uma greve geral atrás da outra. Na Itália, na Grécia e Austrália, há greves gerais o tempo todo, e dizem que não há mais luta de classes. O "boom econômico" está baseado na superexploração operária. Nos EUA um operário trabalha 30% a mais e o poder de compra de seu salário continua o mesmo. Em todos os paises, à parte da renda dos países que corresponde ao lucro do capital nunca foi tão grande, e o salário tão pequeno. Esta situação prepara um acirramento da situação mundial para a explosão. Dizem que há crescimento, mas não se vê a melhora das condições de vida da classe trabalhadora, ao contrário, a medida que crescem as economias, a miséria cresce na classe trabalhadora. Dizem que nos EUA a economia vai bem, que o povo vai bem. Mentira. Olhem o escândalo que acompanhou o furacão Katrina. Este escândalo ocorre no meio do chamado "boom econômico", mas isto não vai durar. Este boom é frágil, débil. Há elementos que não tem precedentes históricos. Toda a economia do mundo depende dos EUA e da China que cresce 10% ao ano. Nos EUA o boom não se baseia na produção, mas no consumo, em dividas. Os estadunidenses estão endividados. O cartão de crédito é "mágico", mas tem que devolver o dinheiro com juros. O crédito tem a função de ser aumentado além da situação normal. Nos EUA já chegaram no limite. O boom do consumo já está colapsando. Os efeitos serão graves ao mundo todo. Os economistas dizem que não haverá recessão no ano que vem. Mas isto depende da especulação. Alguns dados: o preço das casas na Itália, de 1997 a 2005, aumentou 65%. Nos EUA o aumento foi de 75%. Na França foi de 85%. Na Espanha foi de 145%. Na Inglaterra foi de 165%. Na África foi de 245%. Esta é a bolha especulativa mais grave da história. O déficit comercial nos EUA é de 850 bilhões de dólares. Os EUA devem para o mundo todo. Se fosse qualquer outro país , o FMI bateria na porta e mandaria ajustar a economia. Mas os EUA detêm o mercado de moedas. Por isso o dólar cai. A burguesia anda desesperada porque sabe que não vai recuperar seus investimentos. Que efeito terá esta situação no Brasil, na China, na Europa, se a exportação para os EUA está mais cara? O que ocorrerá com a China e com os outros paises se não conseguirem mais exportar? Este boom baseado no consumo e na divida dos estadunidenses vai acabar numa situação catastrófica. Nunca na história da humanidade houve um país com tanto poder e riqueza como o imperialismo estadunidense. Poder militar que gasta 500 bilhões de dólares por ano. Hoje os EUA detêm 38% do gasto mundial com armamento bélico. A Situação na América Latina Na América Latina os reformistas querem assustar os revolucionários. Na Venezuela os reformistas tentam enterrar a revolução ao dizer que os ianques vão atacar, como se o poder do Imperialismo fosse eterno. É claro que eles têm muito poder, são a força mais contra-revolucionária da história, mas este poder está no limite. Estamos presenciando este limite no Iraque. Bush Junior sempre foi um covarde. Na idade do alistamento fugiu do serviço militar no Vietnã, de forma legal, pelas articulações da riqueza de Bush pai. Mesmo com toda força que possuem, estão sendo derrotados no Iraque. Era para saquear o país, mas estão gastando 1 bilhão de dólares por semana. É uma hemorragia de sangue e ouro. Quando entraram no país, pareciam John Wayne nos filmes que dizimava os índios e agora precisam sair com o rabo entre as pernas, mas, ao mesmo tempo, não podem sair, porque isto significaria a desmoralização total. Há uma força mais forte que o imperialismo. É o poder da classe trabalhadora que quando se une, pode transformar a sociedade. Este é um poder colossal, basta ver o que ocorre na Venezuela, na Bolívia e no México. Tudo só funciona se a classe trabalhadora meter a mão. Basta ver o que ocorreu na Revolução Industrial, quando foi ela que centralizou a força do vapor em pistão. Este pistão, em termos políticos, é o partido revolucionário. A classe trabalhadora sem organização é matéria prima para exploração. Na América Latina, há países com grandes histórias revolucionárias. Como pode haver ditos "intelectuais de esquerda" que despreza a classe operária? Na Venezuela eles dizem que o povo não está pronto para o socialismo porque tem baixo nível de consciência. Mas quem tem sido a força motriz da revolução venezuelana, senão as massas operárias e camponesas que barraram o golpe de 2002, em menos de 48 horas, sem programa, sem direção? Naquele momento era possível fazer uma revolução pacifica, sem mortes. Mas os reformistas sufocaram a ocasião e entraram em negociação com os inimigos de classe para salvar a pátria. Este tipo de patriotismo, de aliança com a burguesia inimiga é uma enfermidade. Estou falando que os interesse entre as classes são antagônicos. Não há como conciliar. Mas qual foi o resultado do realismo reformista na Venezuela poucos meses depois? A segunda tentativa de derrubar o Presidente Chavez com um Lockaut patronal, para sabotar economicamente a revolução. Quem salvou o país do Lockaut, senão as massas operárias e camponesas mais uma vez? Os operários ocupam as fábricas e expulsam os burocratas, dirigem as empresas melhor que antes, como ocorre aqui na Cipla/ Interfibra. Portanto, porque a classe trabalhadora não pode administrar toda a sociedade? De novo os "realistas" quiseram conversar com a burguesia golpista. Daí veio o referendo, mas as massas de baixo, com o instinto revolucionário derrotaram mais uma vez a burguesia. Chavez diz que a única solução é o socialismo, mas os reformistas dizem que tem que ser socialismo do século XXI. O que eles querem, na verdade, é a continuidade do capitalismo. Uma revolução é quando as massas, homens e mulheres, se põem em movimento para tomar nas mãos o seu destino. A terra, bancos e os grandes setores da economia têm que ser retirados do controle da burguesia. Se isso ocorresse na Venezuela, teria um efeito cascata em toda América Latina. Há condições maduras de mudança em todo o continente latino americano. Hoje não há nenhum regime capitalista na América Latina. No México, três milhões ocupam o Zócalo - a praça dos poderes em frente ao governo, quando as eleições foram fraudadas. Mas a fraudes eleitorais sempre ocorreram no México. No entanto, desta vez o povo se levantou para dizer não aceitamos mais. Oaxaca se insurge. A revolução no México foi iniciada. Na Bolívia, em duas ocasiões, a classe trabalhadora fez duas greves gerais e derrubaram dois governos. Faltou aos bolivianos um partido e direção revolucionária. O que ocorreu na Bolívia foi uma resposta aos malditos reformistas. No Equador em 2000, o povo entrou em Quito, os soldados entregaram as armas. Na Argentina, o colapso financeiro provoca uma insurreição. O Presidente de la Rua sai fugido. O povo havia tomado as ruas. No Brasil, quando se vê a enorme riqueza, a agricultura, as terras férteis, a industria poderosa, podemos perceber que todas as condições estão dadas para se criar um paraíso na terra. A burguesia teve 200 anos para mostrar o que poderiam fazer e transformaram a terra num inferno. Sob o capitalismo é impossível avançar para um mundo digno aos habitantes deste continente. Se os revolucionários conseguirem ter êxito num só país com as condições objetivas tão favoráveis, nunca estas condições foram tão boas, poderemos atingir rapidamente o socialismo em todo o continente. Vamos lutar pela revolução socialista no Brasil, na América Latina e em todo o mundo. Joinville, SC, Brasil, 7/12/2007