O que a bolha do mercado de ações pode nos dizer sobre o estado da economia dos EUA Share TweetOs mercados financeiros estão em alta como nunca antes. Após algum nervosismo em abril, quando Trump anunciou suas "tarifas recíprocas", as bolsas de valores bateram recordes consecutivos. Ao mesmo tempo em que os trabalhadores estão sendo arrochados, as finanças públicas estão em crise em todos os lugares, os bancos centrais não conseguem conter a inflação e o desemprego está dando as caras. Algo não está certo.A alta no mercado de ações se baseia na Inteligência Artificial (IA), e praticamente apenas em IA. São as grandes empresas de tecnologia que estão impulsionando a alta. As ações relacionadas à IA respondem por 80% da alta deste ano. Os especuladores estão apostando alto, que a febre da IA trará grandes resultados.A Goldman Sachs defendeu a bolha, ao explicar que ela não é como as bolhas do passado, porque, segundo eles, as taxas de lucro são altas e os balanços das empresas envolvidas são bons (ou seja, elas estão sustentadas por quantidades expressivas de dinheiro).Mas é bastante óbvio que as avaliações estão fora de órbita. Comprar ações é como comprar uma parte dos lucros futuros de uma empresa. Portanto, deve refletir o potencial da empresa de gerar lucros no futuro. Como resultado, a burguesia usa um valor chamado P/L (index preço sobre lucro) como o mais próximo de uma comparação objetiva entre diferentes empresas. É a relação entre preço e lucro, ou a avaliação do mercado de ações dividida pelos lucros da empresa.Um economista, Shiller, criou um índice P/L para o índice de ações S&P 500, chamado Shiller P/L. Historicamente, o índice oscilou entre 10 e 20. Os picos anteriores do índice incluem 1929, pouco antes da Quebra de Wall Street, quando atingiu 31 (com o preço sendo 31 vezes superior ao lucro), e 1999, pouco antes do estouro da bolha das pontocom, quando o índice atingiu 44.Hoje, o índice atinge 40. Em outras palavras, as 500 maiores empresas listadas na bolsa de valores dos EUA agora têm ações que valem 40 vezes seus lucros anuais, em média. Isso significa que o crescimento esperado dos lucros dessas 500 empresas é quatro vezes maior do que em 1949, às vésperas do boom do pós-guerra, quando o índice P/L era de 10.Para algumas empresas, esse número é ainda mais extremo. A Tesla, que parece atrair investimentos particularmente especulativos, está em 240, o que significa que o lucro da empresa teria que ser seis vezes maior para chegar ao ponto de ser avaliada na mesma proporção que outras empresas. A Nvidia está sendo negociada a 60 vezes seus lucros. A Palantir, a empresa que vende IA para agências governamentais, está sendo negociada a 700 vezes seus lucros. A fabricante de microchips ARM está em 250 vezes, e assim por diante.Sem dúvida, essas empresas são capazes de crescer. Mas a ideia de que elas obterão lucros de alguma forma proporcionais aos preços de suas ações é claramente uma proposição absolutamente ridícula. Podemos entender por que, portanto, o Banco da Inglaterra, bem como Jerome Powell, o chefe do Federal Reserve, pediram cautela. O Banco da Inglaterra disse que as avaliações "parecem exageradas, especialmente para empresas de tecnologia focadas em inteligência artificial", e observou como elas se comparam às avaliações durante a bolha das pontocom. O CEO do JP Morgan, Jamie Dimon, demonstrou o mesmo sentimento, dizendo que estava "muito mais preocupado do que os outros" com o risco de uma crise.O banco de investimento Morgan Stanley também questiona a solidez dos negócios que estão sendo feitos. Ele aponta, em particular, para o acordo mais recente em que a Nvidia está financiando a compra de seus próprios chips. A empresa concordou em financiar uma nova empresa que comprará chips da Nvidia e os alugará para a nova startup de IA da X. Se esses tipos de negócios estão impulsionando a demanda, ela é claramente insustentável.No entanto, isso não impediu os economistas do Goldman Sachs de negarem a existência de uma bolha. Outros comentaristas seguiram o exemplo. Seu argumento é interessante, também do ponto de vista de classe.Eles dizem que as altas avaliações são justificadas pelos altos lucros obtidos no período passado e que ainda estão sendo obtidos. Eles citam o fato de que as grandes corporações têm muito dinheiro em caixa. O Google (Alphabet Inc.) tem US$ 95 bilhões. A empresa de investimentos Berkshire Hathaway, liderada por Warren Buffett, tem US$ 340 bilhões. A Apple tem US$ 160 bilhões, a Amazon US$ 93 bilhões e assim por diante. As 13 maiores empresas juntas acumulam um caixa no valor de US$ 1 trilhão.O lucro do Google no ano passado foi recorde, atingindo US$ 100 bilhões, o que representa uma margem de 30%, ou seja, para cada dez dólares de receita, três dólares foram de lucro. A Nvidia, que praticamente monopoliza os processadores usados para rodar modelos de IA, está obtendo uma margem de lucro muito boa de 75%, ou US$ 80 bilhões. Não é de se admirar que eles estejam tão interessados em inflar artificialmente a demanda por seus processadores!Não são apenas as empresas de tecnologia que estão nadando em dinheiro. A General Electric está obtendo uma margem de lucro considerável de 19%. A indústria automobilística não consegue atingir números tão altos quanto o setor de tecnologia, mas a General Motors ainda faturou US$ 15 bilhões com uma margem de lucro de 8%.De certa forma, então, é possível entender a postura da Goldman Sachs. Por que o mercado de ações não deveria crescer quando os lucros estão bons? A chave aqui é que as avaliações do mercado de ações se baseiam, a longo prazo, não apenas na sensação de que tudo está indo muito bem, mas nos lucros futuros. Ou seja, somente se essas empresas investirem, expandirem a produção e, assim, multiplicarem seus lucros muitas vezes, as avaliações atuais do mercado de ações poderão ser justificadas. Mas tudo indica que isso não está acontecendo.Onde está o investimento?Nas últimas décadas, disseram-nos que o que precisamos fazer é inundar as grandes corporações com dinheiro para ajudar no crescimento. Economistas e políticos apontam, corretamente, que é o investimento que impulsiona o crescimento. E a única maneira, dizem eles, de obter esse investimento é tornar as corporações mais lucrativas.Cortaram salários e forçaram os trabalhadores a trabalharem mais e por mais tempo, privatizaram empresas estatais, terceirizaram serviços públicos, cortaram impostos sobre a riqueza e os lucros corporativos, aumentaram os impostos sobre os pobres, cortaram o seguro-desemprego para tornar os trabalhadores mais desesperados por trabalho. Tudo isso em nome do "crescimento" ou do aumento do investimento. Mas, depois de décadas tornando as corporações mais lucrativas, temos o direito de perguntar: onde está o investimento?O investimento estagnou em cerca de 14% do PIB. O investimento em capital fixo (máquinas, edifícios etc.) como proporção do valor de cada produto (para o qual o preço é a melhor aproximação) também ficou estagnado em cerca de 15%. Marx utilizou essa medida, entre outras, para mensurar o desenvolvimento da maquinaria na produção. Ela pode ser calculada dividindo-se o custo de capital de cada produto pelo valor de venda. Esse valor cresceu durante todo um período histórico, até a crise de 2007-2008.Correspondentemente a isso, houve um declínio na proporção de capital fixo (máquinas, etc.) em relação aos salários. Em conjunto, esses números mostram que a classe capitalista não está mais aumentando a quantidade de máquinas utilizadas na produção. Ela parou de desenvolver as forças produtivas.Quaisquer lucros adicionais obtidos não são investidos, mas meramente acumulados como reservas de caixa ou devolvidos aos acionistas como dividendos ou recompras de ações.A produtividade da mão de obra na indústria nos EUA atingiu o pico em 2013. Apesar de toda a conversa sobre as maravilhas dos robôs e da IA, eles ainda não tiveram impacto na produtividade. Novamente, isso conta a mesma história: nenhum investimento adicional em máquinas e, portanto, nenhum aumento na produtividade.É impressionante que a produção industrial nos EUA tenha caído 7% desde 2007.Parece que o nível de investimento na economia é inversamente proporcional à quantidade de lucros obtidos. Isso não deveria estar acontecendo. Segundo os apologistas do capitalismo, a enorme quantidade de lucros deveria levar a um boom de investimentos. Se podemos ganhar muito dinheiro, por que não investir? Por que não produzir? Por que não enriquecer nossa sociedade?Um argumento muito semelhante foi defendido por vários "marxistas", que afirmam que a queda da taxa de lucro é a causa das crises. Se há falta de investimento e o sistema está em crise, deve ser porque a taxa de lucro está caindo, afirmam eles. No entanto, as taxas de lucro, pelo menos sob certos aspectos, têm sido mais altas nos últimos anos do que em qualquer momento desde a Segunda Guerra Mundial. Com base nisso, seria de se pensar que estávamos à beira de um grande boom.Então, por que os capitalistas não estão investindo? Parte da explicação, historicamente, é que as empresas americanas estão investindo no exterior, com grandes multinacionais americanas buscando maiores taxas de lucro em outros lugares. É isso que Trump tem mirado. Mas, novamente, não foi o caso no último período. As saídas de Investimento Estrangeiro Direto (IED) dos EUA atingiram o pico de 3,6% do PIB em 2007 e vêm caindo desde então. No ano passado, foram de apenas 1,1%.Se tentarmos abordar a economia apenas do ponto de vista das fórmulas, podemos facilmente ignorar o óbvio: não há razão para investir se as fábricas não estiverem operando nem perto de sua capacidade máxima. É o que acontece desde a crise de 2007.A utilização da capacidade instalada na indústria está atualmente em torno de 77%, significativamente menor do que os 87% registrados no final da década de 1960. A pergunta que os CEOs se farão é: por que construir uma fábrica capaz de produzir mais quando as fábricas existentes têm capacidade para atender a todos os seus pedidos?O que temos aqui é, portanto, um problema do mercado para o qual as empresas estão vendendo, não uma questão de lucratividade dos produtos que vendem.Quando Marx discutiu a taxa de lucro em O Capital, Volume 3, ele não se limitou a explicar a tendência de queda da taxa de lucro e parou por aí. Ele também explicou que existem fatores compensatórios. Ele aborda dois que são de particular interesse: 1. o barateamento do capital e das matérias-primas por meio do comércio mundial; 2. o aumento da taxa de exploração. Ambos têm estado em vigor desde a década de 1970 (quando a taxa de lucro já havia caído).A globalização foi fundamental para o barateamento do capital, o aumento da taxa de lucro e também o barateamento das matérias-primas e de todos os tipos de produtos que os trabalhadores compram. De repente, era possível comprar duas ou três TVs, celulares ou carros com um salário que antes só permitia comprar um.Essa sempre foi uma das razões pelas quais os capitalistas industriais favoreceram o livre comércio – isso lhes permitiu manter os salários baixos. Em outras palavras, foi possível aumentar a taxa de exploração dos trabalhadores sem que eles se sentissem pior. A taxa de exploração é a quantidade de mais-valia que os trabalhadores criam (seu trabalho não remunerado) em relação aos salários que recebem.Estatisticamente, o aumento da taxa de exploração pode ser observado na parcela do PIB destinada aos salários, em comparação com a parcela do PIB destinada aos lucros. Todo trabalhador está familiarizado com isso: trabalhar mais, com mais horas, e receber menos em troca. As estatísticas mostram exatamente a mesma coisa: os lucros, incluindo a taxa de lucro, aumentaram às custas da classe trabalhadora.Qual é a consequência disso? Se os trabalhadores são mais explorados e os lucros capitalistas estão absorvendo uma parcela cada vez maior do capital, e, além disso, eles não estão investindo esses lucros em novas fábricas e máquinas, quem vai comprar os produtos que estão sendo produzidos? Este tem sido um problema crônico que afeta a economia capitalista há décadas. É o que eles chamam de "falta de demanda" ou "falta de poder de compra".Quando os economistas burgueses se obcecam com o que chamam de "confiança do consumidor", é porque esta é uma parte vital do crescimento da economia. Se os consumidores não consomem, os produtores não podem vender, e se os produtores não podem vender, eles não investem.EmpréstimosExistem, é claro, maneiras de contornar esse problema. Uma delas é por meio do crédito ao consumidor. Portanto, não é por acaso que um aumento na taxa de exploração ou uma queda nos salários em relação aos lucros tenha sido acompanhado por um aumento no endividamento. Ou seja, se os consumidores não podem comprar o produto à vista, emprestem-lhes o dinheiro para que possam.Os empréstimos eram tradicionalmente usados para comprar casas, embora no passado fosse exigido um depósito muito maior. Hoje em dia, comprar um carro à vista, mesmo um usado, é a exceção. E não apenas carros, mas qualquer tipo de bem de consumo. Ao comprar uma cozinha, geladeira ou sofá novos, compre-os com um plano de pagamento parcelado. Celulares tendem a ser vendidos a crédito. Ultimamente, a Klarna e empresas similares descobriram como ganhar dinheiro com pequenas compras online. Agora você pode até comprar aquela furadeira ou peça de roupa a crédito e fazer com que a empresa deduza do seu saldo pelos próximos 3 a 12 meses.Durante décadas, os governos vêm conscientemente incentivando cada vez mais o crédito para manter a economia funcionando, abolindo regulamentações contra empréstimos e reduzindo as taxas de juros.Mas dinheiro emprestado não é o mesmo dinheiro que você possui. Todo mundo sabe que um salário é seu, mas um empréstimo você tem que pagar. Um empréstimo é um direito sobre seus ganhos futuros, então quanto mais você pega emprestado, menos dinheiro sobrará a cada mês. Em outras palavras, há um limite para o quanto você pode pegar emprestado, em relação ao quanto você ganha.Após 2008, particularmente nos EUA, o limite dessa expansão de crédito foi atingido. Desde então, o endividamento médio das famílias, como parcela do PIB, caiu de 98% para 68%. O fato de as famílias americanas não terem se endividado mais e, consequentemente, restringido seu consumo, teria produzido um efeito depressivo sobre a economia, não fosse a intervenção do Estado.Por um lado, o banco central (Federal Reserve) imprimiu dinheiro virtual para comprar dívida em uma escala sem precedentes – a chamado "flexibilização quantitativa" – e deixou a taxa básica de juros (a taxa pela qual os bancos emprestam uns aos outros) em zero, por nove dos últimos 17 anos.Por outro lado, o governo federal assumiu a responsabilidade. Para manter o consumo, alguém precisava tomar empréstimos, e se as famílias não pudessem ou não quisessem fazê-lo, o governo precisava fazê-lo. Ele o fez por meio de gastos federais diretos ou colocando mais dinheiro no bolso dos trabalhadores por meio de cortes de impostos e benefícios. A dívida do governo federal dos EUA aumentou de 65% para 105% e continua a aumentar a uma taxa sem precedentes em tempos de paz. O governo dos EUA tornou-se o "consumidor de última instância", não apenas dos EUA, mas, aliás, também do mundo.Se observarmos o gráfico, por um lado, da estabilização da dívida (como parcela do PIB) e, por outro, da estabilização da produção industrial, fica bastante claro que a incapacidade de expandir o crédito levou a uma incapacidade correspondente de expandir a produção industrial. Ou seja, o mercado no qual os produtos poderiam ser vendidos não está mais se expandindo. Portanto, o excesso de capacidade na indústria permanece endêmico e nenhum novo investimento está sendo feito.A ausência de mercado também é a razão para o protecionismo. À medida que a competição por mercados se intensifica, os capitalistas tentam proteger seus mercados da concorrência. Observe, por exemplo, a proibição de equipamentos de telecomunicações da Huawei ou as tarifas sobre veículos elétricos implementadas pelos EUA e pela Europa. As tarifas sobre o aço são outro exemplo: o excesso de capacidade na indústria siderúrgica chinesa causou um colapso no preço do aço no mercado mundial, levando os EUA e a Europa a introduzir tarifas para proteger sua própria produção de aço da concorrência chinesa.A Nvidia precisa encontrar novos compradores para seus processadores, após o governo chinês ter bloqueado parcialmente o acesso deles ao mercado chinês. Daí a onda de negócios em que se envolveram nos últimos meses. O acordo em que a Nvidia está comprando seus próprios produtos, embora não seja inédito, é essencialmente um reconhecimento tácito de que o mercado não existe. Portanto, eles estão usando seus enormes lucros para impulsionar a demanda por seus produtos.O mercado de ações continuará em alta?Em resumo, as últimas décadas de ataques à classe trabalhadora elevaram a taxa de lucro, mas também criaram um endividamento massivo, primeiro da classe trabalhadora e, posteriormente, dos governos. Os limites dessa maneira de fazer a economia crescer foram atingidos, e é por isso que agora enfrentamos estagnação e aumento da tensão internacional.Dado que os lucros dessas empresas permanecem altos, o mercado de ações não poderia continuar a se recuperar, quebrando um recorde após o outro? A resposta a essa pergunta teria que ser "não". Essa é a chave para a relação preço/lucro. Uma relação muito alta significa uma expectativa muito alta de lucros futuros. Ou seja, não é uma expectativa de que uma empresa apenas continue a ter lucro, mas de que seu lucro aumentará, até mesmo exponencialmente.Para que isso aconteça, elas precisam vender mais commodities, mais coisas, e para isso precisam de um mercado em expansão. Mas o mercado não está se expandindo, ou, mesmo que seja para certos setores, não está se expandindo em geral. Portanto, é impossível que essas empresas correspondam às expectativas alimentadas.É isso que torna essas avaliações do mercado de ações fictícias. Simplesmente não há como a Tesla aumentar seus lucros em dez ou vinte vezes no próximo período. A Tesla vendeu 700.000 veículos nos EUA no ano passado, de um mercado americano total de 16 milhões. Para que a Tesla decuplicasse suas vendas, quando o mercado não estivesse em expansão, ela teria que abocanhar mais da metade do mercado, não apenas de veículos elétricos, mas de todos os veículos leves. Isso claramente não acontecerá. Sua avaliação está completamente dissociada da realidade.Por que o mercado de ações está em alta então? Ironicamente, é precisamente porque não há dinheiro a ser ganho investindo em atividades produtivas. As empresas estão acumulando dinheiro, não estão investindo. Elas estão devolvendo dinheiro aos acionistas por meio de dividendos e recompras de ações, ou estão envolvidas em fusões e aquisições. Tudo isso impulsiona os preços das ações, mas não contribuirá para o crescimento a longo prazo.O crédito barato fornecido pelos bancos centrais também fluiu em grande parte para a especulação no mercado de ações. O barateamento do crédito permitiu que bancos e outras corporações tomassem empréstimos baratos para financiar não apenas investimentos produtivos, mas também suas atividades especulativas.Aliás, isso também mostra o quão completamente parasitária a classe dominante se tornou. Se a burguesia tinha uma justificativa histórica para sua existência, era que a burguesia reinvestia seus lucros na produção, que desenvolvia as forças produtivas. Agora, está evidente, ela não faz mais isso.Portanto, mesmo que a valorização do mercado de ações implique um boom iminente, a situação real é completamente diferente.O mercado de imóveis residenciais novos está em recessão há alguns meses. Isso está tendo um grande impacto no emprego na construção civil, que também foi afetado.O mercado de trabalho está sendo seriamente afetado, especialmente a taxa de desemprego entre trabalhadores afro-americanos, o que preocupa economistas. O capitalismo usa grupos como trabalhadores negros e mulheres como um exército de reserva e, portanto, quando a recessão chega, eles são os primeiros a serem eliminados.A confiança do consumidor, que os economistas acompanham obsessivamente, está em declínio desde 2024. Essa medição oferece uma visão do que os consumidores, a maioria dos quais são trabalhadores, pensam sobre suas perspectivas econômicas. Apenas aqueles com grandes participações em ações estão relativamente otimistas. Os demais estão se sentindo pior do que no auge da "grande recessão" em 2009.Essa situação levou o Federal Reserve a começar a reduzir as taxas de juros, mas essa foi uma decisão difícil para os governantes. A inflação permanece relativamente alta e, embora as empresas americanas tenham suportado as tarifas por enquanto, espera-se que elas repassem aos consumidores, elevando os preços no próximo ano.As tarifas também provavelmente causarão problemas de longo prazo para o investimento, já que o capital (físico, maquinário, etc.) ficará mais caro. Elas restringem a concorrência externa, o que tornará os fabricantes americanos menos inclinados a adaptar suas fábricas aos padrões mais modernos, já que estão isolados do mercado mundial.No prazo mais imediato, as despesas do governo americano, como em muitos outros países, precisam ser alinhadas à receita. A situação atual, com um déficit orçamentário de 27%, é claramente insustentável quando a dívida já está em 119% do PIB. Só os pagamentos de juros somam mais de US$ 900 bilhões. Quando chegar o dia do acerto de contas e o governo tiver que equilibrar as contas, seja por meio de aumentos de impostos ou cortes de gastos, isso prejudicará uma economia que se tornou completamente dependente do financiamento público.O quadro geral ilustra a crise orgânica do capitalismo, que o sistema está num beco sem saída e não consegue levar a sociedade adiante. Nas últimas décadas, os trabalhadores tiveram que engolir pílulas amargas de ataques na esperança de que algo melhorasse. Dirigentes sindicais e partidos políticos lhes vendem essa mentira repetidamente. Mas está se tornando cada vez mais óbvio que o remédio não está fazendo nada para curar a doença.Os únicos que se beneficiaram dos últimos 18 anos de medidas econômicas foram um pequeno punhado de bilionários parasitas cuja riqueza, impulsionada pela bonança do mercado de ações, aumentou exponencialmente. E o resto do mundo está pagando o preço.Agora, estamos à beira de outra recessão, e nada é um indicador mais marcante disso do que o mercado de ações. Os comentaristas burgueses mais sérios estão ficando preocupados.Todas as ferramentas que eles usaram para nos trazer até aqui foram usadas: governos tomaram empréstimos sem precedentes, bancos centrais cortaram as taxas de juros e imprimiram dinheiro. Nada resolveu o problema, e agora estamos enfrentando outra crise em que os governos já estão altamente endividados e os bancos centrais estão paralisados por uma inflação que não diminui.A burguesia adiou o dia do juízo final. Atacaram os trabalhadores, saquearam o Estado, enquanto alegavam "estamos todos juntos nessa". Nada disso adiantou. Agora, eles estão começando a perceber que serão os próximos na fila.