Kneecap: quem são os verdadeiros terroristas?

O establishment britânico intensificou sua caça às bruxas ao trio de hip hop Kneecap. O integrante da banda, Mo Chara, foi acusado de crime de terrorismo por levantar “suspeitas razoáveis de que apoia uma organização proscrita, o Hezbollah”.

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Essas acusações espúrias constituem um ataque flagrante à liberdade de expressão artística — e ao movimento palestino em particular. Seu “crime” não é apoiar uma organização proscrita, mas sim se opor ao papel da Grã-Bretanha na facilitação do genocídio em Gaza.

Como a banda explicou em sua declaração:

“Nós não somos a história. O genocídio, sim, o é. Como eles lucram com o genocídio, usam uma ‘lei antiterrorista’ contra nós por exibirmos uma bandeira lançada no palco.

Em vez de defender pessoas inocentes ou os princípios do direito internacional que alegam defender, os poderosos da Grã-Bretanha têm instigado a matança e a fome em Gaza — assim como fizeram na Irlanda durante séculos. Naquela época, como agora, eles alegam estar justificados.

As unidades das Forças de Defesa de Israel (IDF), que eles armam e para as quais pilotam aviões espiões, são os verdadeiros terroristas — o mundo inteiro pode ver isso.”

A impressionante hipocrisia do establishment britânico ao acusar três músicos de apoiar o terrorismo não passou despercebida por ninguém. Nas redes sociais, a banda recebeu uma onda de apoio. Como dizia um comentário sob a publicação do Kneecap:

“Se o PSNI [Serviço Policial da Irlanda do Norte] quiser bandeiras terroristas, podemos mostrar centenas delas em postes de luz no Norte.”

A julgar pelo rigor do governo contra o Kneecap, imaginar-se-ia que milhares de casos semelhantes ocorreram apenas no Norte. Mas, desde sua introdução em 2001, apenas 13 pessoas foram presas na Irlanda do Norte sob a seção da Lei Antiterrorismo utilizada contra Mo Chara.

Enquanto reprime o Kneecap, organizações terroristas de fato estão sendo tratadas com extrema indulgência pelo governo. No ano passado, autoridades governamentais firmaram um acordo para que a UDA e a UVF — grupos paramilitares protestantes da Irlanda do Norte — hasteassem menos suas bandeiras durante a noite das fogueiras. O acordo levou o governo a pagar 80.500 libras a organizações comunitárias, muitas das quais têm vínculos diretos com a UDA e a UVF!

Enquanto a banda está sendo ameaçada de prisão e multas por usar a bandeira de outro povo, organizações terroristas de fato estão sendo pagas para continuar hasteando as suas!

E a Grã-Bretanha não está apenas fazendo acordos com esses terroristas — também colabora com eles. As forças britânicas mantêm um regime de terror na Irlanda há séculos.

Desde o infame Domingo Sangrento — quando paraquedistas assassinaram 14 irlandeses — até os atentados de Dublin-Monaghan, nos quais o Estado “supostamente” colaborou com a UVF para orquestrar ataques que mataram 34 pessoas, o imperialismo britânico sempre foi a maior organização terrorista na Irlanda. E em todo o mundo, continua exercendo esse mesmo papel perverso.

Tanto os conservadores quanto o Partido Trabalhista de Starmer apoiaram com entusiasmo o massacre genocida de Israel na Palestina. Só agora, após 20 meses brutais e mais de 60 mil palestinos massacrados — com Netanyahu ainda decidido a ocupar Gaza — o governo foi levado a sancionar alguns colonos na Cisjordânia, uma medida claramente calculada para causar o mínimo de impacto possível no esforço de guerra de Israel.

Sir “Kid Starver” e seus comparsas, que alegremente cortaram os pagamentos às famílias pobres, são as últimas pessoas na Grã-Bretanha a se preocupar com as dezenas de milhares de pessoas passando fome em Gaza — ou com as centenas de milhares contra as quais o governo israelense agora planeja, abertamente, realizar uma limpeza étnica.

Essas novas sanções, na verdade, cumprem o mesmo papel que sua ofensiva legal contra o Kneecap: conter a crescente onda de indignação que está se canalizando no movimento de solidariedade à Palestina.

Está ficando claro, para milhões na Grã-Bretanha e na Irlanda — e isso a classe dominante não pode tolerar — que a luta por uma Palestina livre é também uma luta contra o imperialismo britânico, tanto em casa quanto no exterior. Eles são cúmplices da guerra de Israel ao mesmo tempo em que reprimem protestos pró-Palestina. E, internamente, seguem atacando os mais vulneráveis para aumentar os lucros dos bilionários.

Não é de se admirar, então, que 47% da geração Z na Grã-Bretanha queira uma revolução! Enquanto a mídia foca no Kneecap, ignora o meio milhão de pessoas em Londres — e dezenas de milhares em Dublin — que protestaram contra o genocídio promovido por Israel no último fim de semana.

O Kneecap está certo em enfrentar essas acusações escandalosas e infundadas. Elas não surtirão o efeito pretendido de intimidar os ativistas pró-Palestina, mas apenas nos encorajarão a nos posicionar contra nossas próprias classes dominantes falidas — e a derrubar o sistema capitalista apodrecido que elas defendem.

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