As FARC e a luta de classes na Colômbia

 

Nos últimos tempos, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) sofreram sérios reveses com o assassinato de alguns dos seus principais dirigentes. Todavia, possuem cerca de 15.000 combatentes e controlam parte do país (sobretudo a selva).

A resistência das FARC nestes últimos 40 anos só se pode explicar por profundas razões económicas e sociais: o atraso do país, a concentração latifundiária, a opressão sobre camponeses e trabalhadores, etc., etc.

Colômbia converteu-se no principal baluarte do imperialismo norte-americano na América do Sul e à frente do país está um psicopata reaccionário, Álvaro Uribe, firmemente apoiado pela oligarquia e os grupos paramilitares que assassinaram cerca de 4.000 activistas sindicais e dirigentes populares.

Origem do conflito armado na Colômbia

As FARC nasceram em 1964, mas os seus antecedentes remontam a 1948, quando foi assassinado Jorge Eliécer Gaitán, candidato presidencial. Este crime provocou um sobressalto insurreccional das massas camponesas que deu lugar ao surgimento das primeiras guerrilhas colombianas.

As FARC estiveram vinculadas, historicamente, ao Partido Comunista Colombiano. Por sua influência estalinista, o PCC defendia posições reformistas e nacionalistas, substituindo a luta pelo socialismo por um acordo impossível com uma inexistente burguesia "progressista" - a teoria das "etapas" da revolução que Dimitrov recuperou do baú menchevique das recordações...

Isto conduziu a um beco sem saída. Daí que as FARC, nestes 45 anos de existência, não se fixaram no objectivo do socialismo, mas na "pressão" à burguesia colombiana para que se sentasse para negociar e aceitasse uma Reforma Agrária e outras exigências democráticas.

Todavia, a expropriação dos terratenentes está indissoluvelmente vinculada à expropriação dos capitalistas e banqueiros nas cidades, porque todos formam uma mesma classe. Não se pode separar a reforma agrária da luta pelo socialismo.

Por isso, todas as negociações entre as FARC y os sucessivos governos terminaram em fracasso. Assim, quando nos anos 80 as FARC declararam um cessar-fogo e organizaram um partido legal, a Unión Patriótica, para explorar a via parlamentar, a classe dominante respondeu com o assassinato de mais de 3.000 militantes - incluindo três candidatos presidenciais utilizando a policia e os paramilitares.

A táctica de Uribe

Pode surpreender que um canalha reaccionário como Álvaro Uribe tenha ganho duas eleições presidenciais consecutivas... Não obstante, nas últimas celebradas em 2006, a abstenção foi de 60%. Colômbia tem um regime semidictatorial e funciona como um acampamento militar dos Estados Unidos, com a desculpa da "guerra ao narcotráfico". Por isso, a fraude eleitoral está presente em muitas zonas.

O que realmente foi surpreendente foi o grande desempenho da coligação de esquerda, o Pólo democrático (baseado no antigo PCC), que ficou em segundo lugar nas eleições com 22% dos votos e que governa a Intendência de Bogotá desde 2003.

Todavia, a guerra de guerrilha continua. No seu desespero para conseguir resultados práticos, as FARC recorreram a atentados indiscriminados e a tácticas de sequestro massivo que têm sido utilizados pela burguesia e pelo imperialismo americano para ganharem o apoio das classes médias e dos sectores politicamente mais atrasados do proletariado e do campesinato para a política da "mão dura"...

Não obstante, nos últimos anos tem-se claramente revitalizado as lutas operárias e populares na Colômbia. Houve várias greves gerais e mobilizações massivas contra a assinatura do Tratado de Comércio Livre com os Estados Unidos. Também se desenvolveram marchas indígenas e camponesas, bem como lutas estudantis nas universidades. A classe operária, apesar dos golpes recebidos, tem demonstrado grande combatividade e organização.

Uribe, sob pressão dos Estados Unidos, tem boicotado uma e outra vez a entrega de reféns das FARC para impossibilitar qualquer acordo de paz - como bem mostra o assassinato de Raul Reys em território equatoriano.

Enfrentando um movimento operário em ascensão e ao surgimento duma alternativa política de esquerda, a burguesia colombiana mantém vivo o "problema guerrilheiro" para justificar (perante a população) a restrição de direitos democráticos, as detenções indiscriminadas e o assassínio de dirigentes populares.

Para mais, a manutenção duma ""frente de guerra" interna, permite a Uribe a ao governo americano justificar a crescente militarização da Colômbia, na perspectiva de vir a lançar uma "guerra preventiva" contra Hugo Chavez e a revolução venezuelana.

O eixo da luta revolucionária deve estar nas cidades

Os limites da luta guerrilheira são claros na Colômbia: Durante 40 anos a frente de batalha manteve-se relativamente estável e poderiam passar outros 40 anos sem que nada de significativo viesse a mudar.

Inclusive num país com um campesinato numeroso, como Colômbia, os recursos vitais da sociedade não se encontram no campo, mas nas cidades: é nelas que se reúnem os centros políticos e económicos do país.

Nenhum regime poderia manter-se de pé diante uma greve geral revolucionária que paralisasse o país e na qual as massas trabalhadoras ocupassem as fábricas, empresas, latifúndios, centros administrativos, etc., organizando os seus próprios órgãos de poder (as comissões de trabalhadores, camponeses, estudantes, etc.). É para esta perspectiva que se deveriam orientar os quadros revolucionários.

Deveriam as FARC autodissolver-se?

Absolutamente não! As FARC podem e devem jogar um papel muito útil, mas actuando como um complemento à luta nas cidades, pondo-se à disposição dos trabalhadores e das comunidades camponesas, para ajudar a formar e a armar os comités operários e camponeses.

A revolução colombiana deve combinar a luta armada no campo com um movimento insurreccional de massas nas cidades dirigido pela classe operária e por um partido revolucionário enraizado nas massas. Mas, insiste-se, as FARC devem actuar como elemento de apoio e não como eixo da luta revolucionária.

A política de "ajuste financeiro" de Uribe, a aceitação do Tratado de Livre Comércio com os Estados Unidos e a actual crise do capitalismo, debilitarão ainda mais a economia colombiana, o que levará a um despertar tormentoso da luta de classes no país - e contra isso, nem o exército, os paramilitares ou os narcotraficantes nada poderão fazer para o evitar.

Sobre a base da sua própria experiência e sob os efeitos dos movimentos revolucionários na Venezuela e Equador, a classe trabalhadora e o campesinato pobre da Colômbia saberão "tomar de assalto os céus".

Source: Esquerda Comunista