EUA: Sindicatos e estudantes de Wisconsin exigem a renúncia de “Hosni Walker”

Trabalhadores e estudantes do estado de Wisconsin nos EUA comparam o governador Scott Walker ao ditador egípcio derrubado Hosni Mubarak, ocupam o Capitólio e exigem sua renúncia.

Na sexta-feira, 11 de fevereiro, o recém-eleito governador de Wisconsin pelo Partido Republicano, Scott Walker, anunciou que ele está preparado para usar as tropas da Guarda Nacional como parte do seu plano para eliminar o direito dos funcionários públicos de ter um sindicato. Segundo o governador, a Guarda Nacional será colocada em alerta “em prontidão para qualquer problema que poderia resultar em uma interrupção dos serviços públicos”. Mas os sindicatos do setor público e estudantes de Wisconsin responderam à altura, ocupando o edifício do Capitólio com mais de 30 mil manifestantes, e com protestos estudantis em 5 escolas de ensino médio. Veja também um recente panfleto do “Socialist Appeal” (EUA).


Na semana passada, como parte do que ele chamou de “tornar Wisconsin aberto para os negócios”, o governador e apoiador do Tea Party [ala de ultra-direitistas do Partido Republicano], apresentou uma legislação que infringirá efetivamente os direitos sindicais de todos os funcionários públicos, com exceção dos bombeiros e polícia. Se o projeto de lei de Walker for aprovado, os funcionários públicos não terão mais o direito de negociação coletiva, o Estado deixaria de deduzir a contribuição sindical do salário dos trabalhadores, e aumentos seriam negados, exceto para ajuste de inflação. Walker também anunciou, mesmo antes dos legisladores do estado terem votado na questão, que a partir de 13 de Março, o governo do estado deixará de cumprir seus contratos com o Sindicato dos Funcionários Públicos de Wisconsin, que representa 22.000 funcionários públicos, a maioria deles professores. O governador disse que os contratos para o resto dos funcionários públicos – em torno de 175.000 ao todo – expirará em 1º de Julho.

Após o anúncio de Walker na sexta-feira, o sindicato dos funcionários públicos e os estudantes de Wisconsin responderam rapidamente. Na segunda-feira, 10 mil servidores sindicalizados e apoiadores (incluindo estudantes da Universidade de Wisconsin) se manifestaram na porta do edifício do Capitólio Estadual em Madison enquanto a primeira sessão legislativa acontecia. Algumas centenas de manifestantes invadiram a audiência para falar contra a proposta de golpe nos sindicatos.

Também na segunda, 100 estudantes no Colégio Stoughton em Madison organizaram uma paralização de 2 horas, deixando as salas de aula para comparecer à passeata em apoio aos professores. Na terça-feira, estudantes do Colegio East, também em Madison, fizeram uma marcha durante o horário de aula até o edifício do Capitólio. Desde o começo da semana, esforços começaram a ligar os estudantes em uma coordenação estadual e teve início também apelos para os estudantes saírem das classes na terça-feira. Mesmo antes das ações estudantis de larga escala começarem, o superintendente da escola estadual Dan Nerad, foi pressionado apenas pela idéia de uma greve estudantil, para escrever formalmente ao Governador Walker, incitando-o a abandonar os ataques aos sindicatos estaduais.

Na terça-feira, membros dos sindicatos e apoiadores fizeram uma manifestação ainda maior de 15 mil no Capitólio, pedindo para que o projeto de lei seja rejeitado e com faixas exigindo que “Hosni Walker” seja substituído. Três mil pessoas lotaram o edifício do Capitólio e congestionaram o segundo dia de audiência. Muitos dos trabalhadores e apoiadores acamparam toda a noite fora do prédio entre as manifestações de segunda e terça-feira. Além disso, cerca de mil trabalhadores mais se manifestaram na porta da casa de Walker.

O ataque de Walker contra os trabalhadores organizados está sendo feito a partir de uma falsa sensação de força de sua parte. Apenas 6 semanas depois que ele foi eleito com o apoio do Tea Party, ele disse que quem não podia ver que ele estava preparando um ataque contra os sindicatos “devia estar em coma”. Mas Walker, assim como o resto do Particos Republicano (e Democrata) e a mídia corporativa, parece ter entrado em uma espécie de coma auto-induzido, acreditando em sua própria campanha publicitária sobre o Tea Party ter uma base real nas massas da população americana. A reação inicial da classe trabalhadora para a implementação do programa anti-trabalhadores do Tea Party mostrou rapidamente o real estado das coisas!

Walker disse que suas propostas são necessárias para corrigir o déficit orçamentário estadual de 137 milhões de dólares até junho. Nos estados controlados por ambos, Republicanos e Democratas, os governadores e outras autoridades públicos estão tentando vender a mesma estória: porque os orçamentos públicos estão no vermelho, os funcionários públicos terão que “enfrentar a realidade” e terão que pagar a conta com cortes nos salários ou coisa pior. Mas esta não é a realidade. Na verdade, há, sim, recursos para garantir salários decentes e benefícios para os funcionários públicos, e para expandir ainda mais o setor, contratando mais trabalhadores com salários exigidos pelos sindicatos e fornecendo mais serviços essenciais.

No entanto, ao invés disso, estes recursos estão sendo usados para continuar a financiar as guerras no Iraque e Afeganistão, que sugam o inchado orçamento militar, e fornecendo bilhões para 1% dos americanos mais ricos. A instituição de dois partidos está mais preocupada com a guerra e em enriquecer seus apoiadores do que em prover serviços públicos e padrões de vida decentes para aqueles que os sutentam. A realidade é que ambos os Democratas e Republicanos estão usando os déficits públicos como uma cobertura na tentativa de atacar e, finalmente, quebrar o movimento sindical, onde os funcionários públicos são a maioria.

Apesar das grandes manifestações desta semana, até agora Walker parece estar determinado a forçar a aprovação da nova lei, porém a maioria dos legisladores Republicanos têm-se recusado a comentar publicamente como irão votar. Na verdade, enquanto apenas 1 Republicano apoiou publicamente o projeto de lei, 3 Republicanos já disseram que não têm certeza como irão votar. Isto mostra que a mobilização dos sindicatos está tendo um efeito e poderá forçar a legislatura de maioria republicana a votar contra o projeto de lei do Governador.

Os trabalhadores de Wisconsin estão dizendo: Basta! Embora esteja claro que os legisladores sentem-se pressionados por milhares de trabalhadores e estudantes comprimindo o Capitólio, eles estão também sob forte pressão de outros atores – aqueles que pagam por suas campanhas eleitorais – os grandes bancos e corporações, para perseguir os sindicatos. O próximo passo necessário deveria ser que os funcionários públicos preparassem uma greve em todo o estado, incluindo até mesmo, se necessário, uma greve geral, formando comitês de coordenação dos sindicatos do setor público e estudantes para planejar essas greves.

Enquanto “legalmente”, muitos funcionários públicos estão proibidos de fazer greve, Walker está também “legalmente” a ponto de rasgar os contratos do sindicato. Walker pode até pensar que “o poder dá a razão”, mas se os funcionários públicos e estudantes juntos organizarem uma interrupção total das escolas, universidades, conveniências e serviços públicos, eles mostrariam que Walker não tem tanto poder assim!

Muitas pessoas duvidaram ou se esqueceram do poder dos trabalhadores organizados. Muitos nem consideram a Associação Nacional dos Educadores um sindicato “real”. Mas o Conselho de Associação Educacional de Wisconsin, a regional estadual do NEA [Associação Nacional de Educadores, da sigla em inglês], afirmou que na noite de terça-feira, em torno de 40% dos 2.600 professores, auxiliares, assistentes sociais e psicólogos na unidade em negociação alegaram estar “doentes”. Isto não foi nada menos que uma ação de trabalho conjunto da categoria, muito provavelmente contra os desejos da direção da NEA, e eles efetivamente fecharam as escolas. Assim como na manhã de quinta-feira, 15 escolas permaneceram fechadas. Isto mostra o poder latente das organizações dos trabalhadores, e é precisamente este o motivo pelo qual Walker e outros como ele no país querem esmagá-las.

Algumas pessoas culparão os professors por “colocarem seus interesses” acima de seus estudantes. Mas as ações solidárias dos estudantes mostram que eles entenderam o que está em jogo. Cortando salários e benefícios e aumentando as pressões sobre os professores com o aumento do tamanho das classes, o programa de ensino impessoal, e o fim da segurança no emprego de maneira nenhuma garantirá que os estudantes recebam uma educação decente!

A impotência e cumplicidade dos Democratas têm sido expostas em face destes ataques. Sem representantes próprios dentro do legislativo, a única opção imediata dos trabalhadores de Wisconsin é derrubar por fora o projeto de lei de Walker, continuando e expandindo as manifestações de massas nas ruas, ligando-se com estudantes e organizando greves nas escolas, universidades e serviços públicos. Enquanto Walker age assim como um Governador Republicano do Tea Party, os Governadores Democratas dos estados da Califórnia e Nova York estão preparando raivosos ataques aos seus próprios funcionários públicos.

No fim das contas, ambos os partidos – Democratas e Republicanos – representam os interesses da mesma classe: a classe capitalista. Os trabalhadores precisam de um partido próprio: um Partido dos Trabalhadores de Massas, baseado nos sindicatos e representando os interesses da classe trabalhadora como um todo. Se os trabalhadores de Wisconsin tivessem um Partido de Trabalhadores, eles poderiam combinar as ações das ruas, das escolas, e nos departamentos do governo local com ações políticas para derrotar o projeto de lei e expôr sua natureza, que ampliaria a voz da classe trabahadora e ajudaria a mobilização ainda maior em defesa dos funcionários públicos.

A batalha que fermenta em Wisconsin mostra a vanguarda dos ataques contra os funcionários públicos nacionalmente. A AFL-CIO deveria colocar seus recursos e mobilizar os membros dos sindicatos e estudantes de todo o país para ajudar os trabalhadores de Wisconsin e ajudar a preparar as greves no setor público, escolas e universidades. Se o ataque aos trabalhadores de Wisconsin não for combatido pelos líderes sindicais, será mais fácil para os governadores e legisladores dos outros estados atacarem as organizações sindicais. A excelente resposta dos trabalhadores e estudantes em apenas alguns dias desde a inauguração do show de ataques de Walker mostra que se os sindicatos quisessem expandir a luta, eles teriam apoio da categoria.

“Do Cairo até Madison, Trabalhadores uni-vos!” Assim dizia uma das faixas no Capitólio estadual de Wisconsin, uma clara indicação que a revolução egípcia tem tido um efeito inspirador e eletrizante em todo o mundo. Nesta era de austeridade, as lutas dos trabalhadores em um país são uma inspiração para os trabalhadores globalmente. O movimento operário é baseado no velho ditado: “Um ataque contra um é um ataque contra todos!” Mas por isso mesmo, a vitória de um, é uma vitória para todos. Uma luta vitoriosa contra estes ataques em Wisconsin enviaria uma clara mensagem a todos os capitalistas e seus políticos: os trabalhadores já tiveram cortes, concessões e austeridade suficientes. Uma vitória em Wisconsin seria um exemplo importante para o resto do país e além. Esta é uma luta que pode ser vencida!

St. Louis, 21 de fevereiro de 2011.

Join us

If you want more information about joining the RCI, fill in this form. We will get back to you as soon as possible.