El Salvador: a nova lei de mineração de Bukele enfrenta forte oposição entre os jovens

A recente aprovação da lei de mineração pelo governo de Bukele em El Salvador, que revogou a decisão de 2017 de proibir toda a mineração de metal no país, gerou forte reação, especialmente entre os jovens, as comunidades rurais e os ativistas ambientais. Uma parcela significativa da juventude salvadorenha, agora ciente das graves implicações ambientais dessa lei, tomou as ruas para protestar contra esse projeto destrutivo. Esse embate pode se tornar um ponto de inflexão no confronto entre Bukele e uma grande parte da sociedade salvadorenha.

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A juventude protesta contra a mineração

No domingo, 19 de janeiro, centenas de pessoas, em sua maioria jovens, atenderam ao chamado do coletivo Voces del Futuro para se reunir em frente ao principal símbolo arquitetônico do regime de Bukele: a moderna e gigantesca Livraria Nacional de El Salvador (BINAES), recentemente construída com doações chinesas. Essa pode não ter sido a maior manifestação contra o presidente ilegítimo, mas foi, sem dúvida, a mais orgânica, autogerida e combativa que Bukele já enfrentou.

A tentativa de reintroduzir a mineração no país gerou forte reação, não apenas entre os jovens. De acordo com uma pesquisa realizada pela Universidad Centroamericana José Simeón Cañas (UCA) em dezembro de 2024 – antes da aprovação da nova lei pelo governo –, 59% da população salvadorenha se opunha à retomada da mineração em El Salvador.

Não surpreende que a decisão de Bukele tenha sido tão impopular, considerando que grande parte da população do país enfrenta escassez de água. A mesma pesquisa revela que os salvadorenhos estão amplamente conscientes da crise hídrica e associam corretamente a futura exploração mineral ao agravamento da poluição das fontes de água.

Uma nova atmosfera de luta entre os jovens

A manifestação de 19 de janeiro teve grande repercussão entre os jovens. Um clima de energia e vitalidade tomou conta das ruas. Por mais de três horas, diversas pessoas discursaram para o público presente e capturaram sua atenção. Discursos vibrantes de mobilização foram feitos por representantes de diferentes comunidades afetadas pela exploração minerária no passado. Ao lado deles, também falaram figuras religiosas, jovens radicalizados e ativistas ambientais que participaram de lutas históricas no país. A atmosfera nos degraus da Biblioteca Nacional foi marcada por um nível de consciência política superior ao observado nos últimos protestos.

Até o momento em que este artigo foi escrito (27 de fevereiro de 2025), o governo não emitiu qualquer resposta significativa ao protesto. Mesmo o exército de perfis falsos, criadores de conteúdo comprados e veículos de mídia financiados pelo governo tem encontrado dificuldade em desacreditar essa manifestação pública. Semanas antes, Bukele tentou comprar o silêncio de alguns ao perdoar um mês de dívidas das contas de energia dos mais pobres do país. No entanto, isso não retirou a mineração do centro do debate político.

As consequências da exploração de minério em El Salvador

El Salvador tem uma longa história de mineração. A extração artesanal de minérios é praticada no país desde o início do século XIX e, até o final desse período, já havia sido industrializada.

O caso mais emblemático foi o da mina de San Sebastián, no departamento de La Unión, que contaminou o rio da cidade. Em 2006, o governo salvadorenho precisou suspender as permissões de mineração devido à forma irresponsável como a empresa mineradora operava.

Um século de mineração em San Sebastián trouxe consequências irreparáveis para toda a comunidade. Estima-se que cerca de 400 famílias tenham sido afetadas, enfrentando problemas de saúde e perdendo o acesso à água, cujo preço disparou. De acordo com um artigo de 2016 no jornal La Prensa Gráfica, um metro cúbico de água por família na cidade costumava custar US$ 0,25, mas subiu para US$ 4,25.

A revista Gato Encerrado documentou testemunhos de famílias que ainda sofrem as consequências da mineração em San Sebastián:

“Atualmente, a maioria está sendo afetada pela questão do metal; essa água fica amarela e solta um cheiro de cianeto que afeta a todos nós”, conta Don Luis, com preocupação.

O cianeto é uma substância química potencialmente letal usada na extração de minério.

A luta contra a mineração

O movimento em defesa do meio ambiente travou uma intensa batalha para pôr fim à exploração mineral em El Salvador, atingindo seu ápice no final dos anos 2010. Ativistas enfrentaram perseguição, ameaças e até mesmo assassinatos. Pelo menos quatro ativistas ambientais foram mortos no norte do país, com a cumplicidade do Estado.

Apesar da repressão, organizações de base conseguiram proibir a mineração em 2017. Essa vitória foi fruto da mobilização coletiva nas ruas e demonstra o que pode ser conquistado por meio da luta. No entanto, esse triunfo também evidencia que, sob o capitalismo, reformas e leis não são permanentes. O que é alcançado por meio da organização e mobilização de trabalhadores e estudantes pode ser facilmente revertido a qualquer momento para beneficiar o grande capital. Assim, a luta deve ir além de simples leis ou reformas; ela precisa ser uma luta revolucionária contra o capitalismo.

O retorno da mineração e o contexto internacional

A retomada da mineração em El Salvador é uma consequência direta da crise global do capitalismo, um sistema que está sempre em busca de novos recursos e matérias-primas para explorar. O imperialismo disputa o controle dos recursos naturais, impactando diretamente os países mais vulneráveis e trazendo miséria e morte para milhões de pessoas. O regime de Bukele procura desesperadamente uma forma de se adaptar a um mundo em constante mudança e, nesse cenário, não hesitará em entregar ao presidente Trump – ou a qualquer potência imperialista – as matérias-primas que estiverem procurando.

Nos primeiros dias deste ano, as ameaças de Trump de anexar o Canal do Panamá e a Groenlândia demonstraram que ele fará de tudo para garantir o acesso a matérias-primas e reivindicar áreas estratégicas para o comércio global em benefício do capitalismo norte-americano. Nesse cenário de disputa por recursos naturais, o único papel permitido a países como El Salvador no tabuleiro internacional é oferecer suas riquezas para o saque dos imperialistas.

Mentira atrás de mentira

Bukele busca se apresentar, perante seus eleitores, como o líder de um governo que pretende promover o desenvolvimento industrial em benefício dos mais pobres. É verdade que, por um período, o investimento de mineradoras internacionais em El Salvador pode gerar empregos para aqueles que vivem nas proximidades; a economia pode até mesmo crescer e alcançar certa estabilidade. No entanto, isso não pode ser sustentado indefinidamente.

Esses empregos não são de longo prazo. Eles existirão apenas enquanto houver recursos a serem explorados. Quando a extração for concluída, as pessoas ficarão sem trabalho e, consequentemente, sem qualquer fonte de renda. A economia se retrairá novamente e poderá até mesmo entrar em crise. Além disso, os impactos ambientais permanecerão, incluindo a contaminação da água. Essa atividade também trará sérios riscos à saúde, expondo os trabalhadores aos perigos inerentes à indústria mineradora.

Os defensores da mineração falam sobre os avanços tecnológicos do setor. No entanto, apesar dessas inovações, El Salvador, devido à sua geografia e recursos limitados, não pode evitar consequências ambientais severas. A destruição de uma floresta, mesmo que parcial, perturbaria o equilíbrio ecológico local, o que, por sua vez, aumentaria o risco de inundações e alteraria o ciclo natural das chuvas. A nova lei de mineração proíbe o uso de arsênico, mas permite a utilização de outros produtos químicos, como o cianeto, altamente poluentes. Não é preciso ser um gênio para entender que grandes empresas não se importam com o meio ambiente ou com a vida humana; quando enxergam a possibilidade de lucro, assim será feito, custe o que custar.

A verdade é que a extração de minérios, longe de trazer benefícios para El Salvador, resultará apenas em destruição e pobreza. Bukele afirmou que o Estado terá um papel significativo no setor de mineração. No entanto, já sabemos como as mineradoras operam em qualquer parte do mundo: elas exploram ao máximo os recursos disponíveis e deixam os países em ruínas. Essa é a lógica do capitalismo. Se esse já era o cenário em tempos de estabilidade econômica global, o que nos faz pensar que hoje seria diferente?

As mineradoras são conhecidas por saquear recursos em diferentes partes do mundo. Para confirmar isso, basta analisar as estatísticas de países com condições geográficas semelhantes às de El Salvador para perceber que o governo está caminhando rumo ao abismo, e não ao progresso, como afirma. O Congo, explorado por suas vastas riquezas minerais, afundou ainda mais na pobreza, na miséria e nos conflitos. Mais próximo de El Salvador, no Peru, as lutas contra a mineração são intensas, com a polícia frequentemente recorrendo à força contra manifestantes que rejeitam essa atividade. Existem muitos outros exemplos semelhantes, e todos eles demonstram que o verdadeiro objetivo de Bukele nessa nova cruzada é favorecer o grande capital estrangeiro e garantir algumas migalhas para tentar estabilizar financeiramente seu governo.

O Estado burguês como uma ferramenta dos ricos

Como instituição a serviço da classe dominante, o Estado sempre estará ao lado das empresas transnacionais. A defesa da natureza só será possível por meio da luta organizada daqueles que batalham para preservar a vida humana. Apenas uma transformação no sistema poderá pôr um fim ao destino para o qual o planeta está condenado a seguir sob o capitalismo.

Sob o governo Bukele, a perseguição a ativistas no norte do país foi retomada. Há mais de um ano, diversos líderes da comunidade Santa Marta, pertencentes à Associação pelo Desenvolvimento Econômico e Social de Santa Marta (ADES), foram vítimas de um julgamento político. Embora tenham sido absolvidos na época, o Estado recentemente ordenou a reabertura do caso. Esse ataque tem como objetivo enfraquecer aqueles que desempenharam um papel crucial na luta contra a mineração, removê-los como obstáculos para futuros investimentos e facilitar a exploração com o respaldo estatal.

O papel da juventude no combate revolucionário

Na luta contra a mineração exploratória em El Salvador, devemos resgatar as tradições de resistência do passado, organizar debates e grupos de ação, e desenvolver assembleias locais, regionais e nacionais que possam discutir planos para revogar a lei. Nesse processo, o movimento pode unificar as lutas que nos afligem: a crise da moradia, a perda de direitos, os problemas na educação, o alto custo de vida, entre outros. Visto de maneira ampla, esse é um programa de luta unificada para pôr fim ao governo repressor e substituí-lo por um governo dos oprimidos.

A juventude desempenha um papel fundamental no fim da barbárie capitalista. Os jovens salvadorenhos podem agir de maneira revolucionária caso se organizem e compreendam que apenas uma revolução pode realmente pôr fim à mineração capitalista. Esse não é apenas um problema da mineração; trata-se da manifestação de um problema mais amplo: o capitalismo como sistema.

A juventude precisa compreender que existe uma alternativa ao capitalismo: o comunismo. Esse é o único sistema capaz, hoje, de substituir a irracionalidade capitalista e criar um mundo racional, onde os recursos naturais sejam administrados pela classe trabalhadora e utilizados para o bem comum da sociedade.

Um país em transição para o comunismo estabeleceria o controle da indústria e da produção, planejando-as de acordo com as reais necessidades da sociedade. Os recursos naturais, as fábricas e tudo relacionado à economia e ao governo estariam nas mãos dos trabalhadores, que, de maneira democrática, tomariam as decisões mais importantes da sociedade. Seria uma sociedade sem ricos nem exploração.

Mas, antes disso, devemos nos organizar para expropriar a classe dominante daquilo que nos pertence: a terra, as fábricas e os recursos naturais. Sem dúvida, haverá resistência. No entanto, devemos lembrar que há muito mais de nós, que sofremos sob a opressão capitalista, do que de pessoas ricas, que vivem como reis. A unidade da nossa luta é a única força capaz de pôr fim à miséria capitalista. O mundo só pode mudar por meio da transformação revolucionária.

Devemos colocar um fim ao capitalismo: a alternativa é o comunismo.

O futuro de El Salvador está em risco. Se não tomarmos uma posição agora, o dano será irreversível. A luta não é apenas pelo meio ambiente, é pela vida em si. É tempo de a juventude e as massas exploradas se unirem para podermos defender o que nos pertence: a água, a terra e todo o nosso futuro. A única opção viável é a revolução. A única solução é o comunismo.

A luta pela água, pela terra e por um futuro digno não pode ser um esforço isolado. Apenas por meio da organização e do esforço revolucionário seremos capazes de erradicar o sistema que permite a exploração dos nossos recursos naturais. A juventude tem um papel fundamental nesse processo: se unir, se organizar e tomar o controle do seu futuro no caminho pela verdadeira liberdade.

Se você se aproxima das nossas ideias, junte-se à Revolución Comunista agora e faça parte da luta por um mundo diferente, verdadeiramente humano e racional! Tudo isso está acontecendo hoje, se organize conosco.

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