Donald J. Trump algum dia receberá o Prêmio Nobel da Paz?

Quando os líderes falam de paz, o povo sabe que a guerra está chegando.” (Berthold Brecht)

Esta manhã, o homem na Casa Branca deve ter-se engasgado com sua tigela de flocos de milho ao ver as manchetes nos jornais:

María Corina Machado, a mais proeminente líder da oposição venezuelana, acabara de ganhar o Prêmio Nobel da Paz!

O presidente norueguês do comitê Nobel, Jørgen Watne Frydnes, elogiou Machado como uma “brava e comprometida defensora da paz” que “mantém a chama da democracia acesa em meio a uma escuridão crescente”.

Esta notícia tão inoportuna – e inesperada – golpeou o presidente dos Estados Unidos com a força de uma martelada.

“Que diabos está acontecendo? Essas pessoas em Oslo perderam a cabeça? Não viram o noticiário? Não têm televisão na Noruega?”

O pobre Donald mal podia acreditar no que via. Ontem mesmo, ele saboreava o sucesso monumental de seu plano de paz para o Oriente Médio, que certamente ficará registrado nos anais da história futura como um dos maiores triunfos de toda a história da diplomacia mundial.

"Esses caras em Oslo não testemunharam as cenas selvagens de júbilo em Gaza? Não viram uma multidão dançando nas ruas de Israel, agitando bandeiras americanas e me cantando louvores?"

O resultado deveria ter sido inevitável. O prêmio tão almejado deveria ter sido seu, apenas pedindo-o! Algo está muito errado com o mundo atual para permitir uma injustiça tão terrível!

Sem dúvida, o presidente terá usado uma linguagem muito mais forte do que essa. Mas, com o devido respeito à etiqueta, usaremos uma versão mais generosa. A essência, no entanto, será exatamente a mesma.

Quando Donald Trump se candidatou à presidência dos Estados Unidos, apresentou-se como o candidato da paz. Mas vamos examinar a questão um pouco mais de perto.

Qual é o verdadeiro significado da suposta missão dos Estados Unidos pela paz no mundo?

Um campeão da paz?

Em 1984, de George Orwell, o Ministério da Paz (Minipax) é o departamento governamental responsável pela guerra. Da mesma forma, o Ministério da Verdade lida com mentiras, o Ministério do Amor é responsável pela tortura e o Ministério da Abundância simboliza pobreza e fome.

Esses são exemplos do que Orwell chamou de Newspeak (Novilíngua foi o termo usado por muitos tradutores do livro 1984). Continua vigente no mundo do século XXI. O chamado politicamente correto nos informa que pessoas não são mais mortas em guerras, elas são meramente "eliminadas". O massacre de civis – como em Gaza – é meramente um "dano colateral".

Sob o disfarce de uma suposta "imprensa livre", somos constantemente submetidos a uma enxurrada de propaganda mentirosa. Por último, mas não menos importante, de acordo com a maior mentira de todas, vivemos sob uma "ordem internacional baseada em regras".

Infelizmente, as regras aqui mencionadas não estão escritas ou codificadas em lei. Elas nunca foram aprovadas por nenhum governo democraticamente eleito nem por nenhum organismo internacional.

Elas são meramente inventadas por Washington em momentos específicos para justificar o que convém aos interesses do imperialismo americano.

E o resto do mundo deve aceitar essas ordens arbitrárias ou então enfrentar punições severas, seja na forma de sanções, tarifas elevadas, pressão diplomática ou bombardeios aéreos e invasões.

Essa é, em poucas palavras, a essência da política externa que vem sendo perseguida há décadas pelos Estados Unidos. E ela ainda é mantida, embora da forma mais caótica e imprevisível, pelo atual governo.

No início de setembro, o presidente Donald J. Trump assinou uma ordem executiva alterando o nome do Departamento de Defesa para Departamento de Guerra.

A ordem autoriza o Secretário de Defesa, Pete Hegseth, e funcionários subordinados, a utilizar, a partir de agora, títulos secundários como "Secretário de Guerra" e "Secretário Adjunto de Guerra".

Este pequeno detalhe nos diz tudo o que precisamos saber sobre a real natureza e os objetivos do imperialismo americano. Pelo menos é um pouco mais honesto do que a linguagem de 1984, de George Orwell.

As promessas do Candidato à Paz

Lembremos que, durante a campanha presidencial, Donald Trump prometeu repetidamente que acabaria com as "guerras eternas", às quais os Estados Unidos parecem estar permanentemente envolvidos.

Ele prometeu que poria fim ao envolvimento dos Estados Unidos no pântano fatal que é a guerra na Ucrânia, que, segundo ele, terminaria em um dia. Isso não foi de forma alguma um fator secundário para garantir sua vitória eleitoral.

No entanto, agora vemos que, longe de terminar, a guerra se arrasta sem um fim previsível à vista. E os tão alardeados planos de paz de Donald Trump (dificilmente se poderia chamá-los de estratégia) acabaram se revelando um amontoado de noções confusas e frequentemente contraditórias.

Ele mudava constantemente suas políticas para a guerra na Ucrânia de um dia para o outro – às vezes, de uma hora para a outra – em um jogo interminável de esconde-esconde, que não levava a lugar nenhum.

Suas negociações estavam fadadas ao fracasso desde o início, porque se recusavam a levar em conta os reais objetivos de guerra da Rússia e do regime de Kiev.

A exigência de um cessar-fogo jamais seria bem-sucedida, pois os russos que, sem dúvida, estavam vencendo a guerra, não tinham o menor interesse em aceitá-la.

Por outro lado, Zelensky rejeitou obstinadamente qualquer sugestão de compromisso, insistindo em seu chamado "plano de paz", que consistia essencialmente em exigir uma capitulação incondicional por parte dos russos.

A sugestão, originalmente concebida pelo General Kellogg, de que os russos poderiam ser persuadidos a fazer um acordo com base em uma oferta limitada de território, basicamente se resumia a oferecer-lhes o que já haviam conquistado no campo de batalha.

De qualquer forma, Zelensky não queria nem ouvir falar nisso. Portanto, não havia absolutamente nenhuma base para negociações bem-sucedidas, uma vez que os objetivos de ambos os lados eram mutuamente incompatíveis e a experiência mostrou que é impossível resolver o problema.

É por isso que o plano de paz de Trump terminou em um desastre totalmente previsível.

EUA e Israel

Até aqui, a Ucrânia. Mas o ignominioso fracasso de Trump em resolver o problema na Ucrânia parece ter sido compensado por seu aparente sucesso no Oriente Médio.

Mas será que isso é realmente verdade?

Para começar, há uma enorme diferença entre as duas questões. Embora a questão ucraniana seja constantemente apresentada como de vital importância para os interesses do Ocidente, incluindo os Estados Unidos, isso está longe de ser verdade.

De fato, quando examinada à luz fria do dia, deixando de lado toda a propaganda barulhenta que serve para confundir a questão e distorcer a verdade, não há nada na Ucrânia que afete os interesses vitais dos Estados Unidos.

Em contraste, o Oriente Médio é de extrema importância para os Estados Unidos, por razões econômicas, políticas e estratégicas. Isso explica em parte o apoio obsessivo, e à primeira vista incompreensível, de Donald Trump a Benjamin Netanyahu.

Neste momento, Israel representa o único ponto firme de apoio ao imperialismo norte-americano no Oriente Médio. Desse ponto de vista, a defesa de Israel sempre foi, e continua sendo, um elemento central da política externa de Washington.

É isso que explica o enorme apoio desfrutado pelo lobby pró-Israel e sionista em Washington. Isso sempre esteve presente, mas parece se expressar de forma extrema no atual governo.

É um elemento fundamental na ideologia da ala ultra direita raivosa do Partido Republicano, e também para os fundamentalistas cristãos fanáticos que conquistaram considerável apoio nas fileiras dos republicanos.

Trump sempre se inclinou para essa ala e, agora que desfruta de poder quase ilimitado como Presidente dos Estados Unidos, encontra-se em posição de dar plena expressão aos seus preconceitos.

Isso invariavelmente o levou a uma política de apoio absoluto e incondicional ao regime de Benjamin Netanyahu.

No entanto, em muitas ocasiões, o primeiro-ministro israelense demonstrou ser um aliado bastante incômodo, tão cheio de sua própria autoimportância que se sente capaz e disposto a morder a mão que tão generosamente o alimenta.

Anos de experiência lhe ensinaram que, não importa o que faça ou diga, em última análise, Washington sempre o apoiará. Embora Donald J. Trump não seja um homem que goste de ser contrariado, ele parecia disposto a tolerar bastante do seu amigo em Jerusalém.

Essa aliança fatal tornou-se agora um ponto fraco evidente na política externa americana.

Israel isolado

A conduta monstruosa do exército israelense em Gaza provocou uma reação negativa na opinião pública mundial, forçando até mesmo pessoas como Starmer e Macron a tentarem se distanciar dos israelenses, pelo menos em palavras.

Mas as palavras de indignação moral dos líderes europeus, naturalmente, são desprovidas de qualquer conteúdo real. Elas cheiram a hipocrisia. Mesmo o "reconhecimento" de um hipotético Estado palestino é, na verdade, um gesto vazio que não afeta o genocídio em Gaza em nenhum grau.

Serve apenas como uma cortina de fumaça conveniente por trás da qual esses governos podem esconder seu apoio a Israel, para o qual continuam enviando grandes quantidades de armas e dinheiro, com os quais os israelenses podem continuar sua matança sem o menor obstáculo.

Nas palavras do grande diplomata francês Talleyrand, "C'est pire qu'un crime, c'est une faute": "É pior que um crime, é um erro." Os líderes europeus estão agora descobrindo isso.

A tentativa de enviar uma flotilha de pequenos barcos para fornecer ajuda à população faminta de Gaza foi previsivelmente sabotada pelos israelenses, que apreenderam os barcos e prenderam alguns dos que estavam a bordo.

Isso provocou imediatamente uma onda de fúria, expressa em grandes manifestações e greves na Itália, Espanha e outros países. A guerra de Gaza tornou-se o ponto focal de toda a raiva e descontentamento acumulados das massas.

Ameaçou provocar uma onda semelhante de indignação nos próprios Estados Unidos, e isso terá efeitos profundos e negativos no futuro do governo Trump.

No final, Netanyahu simplesmente foi longe demais. Quando ordenou o bombardeio de um prédio em Doha, onde representantes do Hamas negociavam a paz, provocou uma tempestade em todo o Oriente Médio.

Enfrentado a perda de aliados importantes entre os países do Golfo, como o Catar, Trump foi obrigado a mudar de posição e a atacar duramente Netanyahu, cuja insolência e arrogância provocaram a fúria do homem na Casa Branca.

Este foi um fator importante que persuadiu Trump a dar uma reviravolta abrupta na questão de Gaza. Os detalhes já são bem conhecidos por todos. Trump anunciou a um mundo atônito que finalmente havia resolvido o problema de Gaza e que a paz seria alcançada em questão de dias.

Problema resolvido! Mas será que foi? O primeiro-ministro israelense é conhecido por ser tão escorregadio quanto uma enguia e tão traiçoeiro quanto uma cobra venenosa. Embora concordasse verbalmente com todas as exigências de Trump, ele imediatamente começou a recuar.

Enquanto o Hamas (ou pelo menos alguns de seus líderes) concordou relutantemente com o plano de Trump (ou pelo menos com parte dele), Netanyahu permaneceu petulante e desafiador. Em um telefonema, agora notório, ele exasperou tanto o homem na Casa Branca que Trump gritou com ele: "Por que você é tão negativo o tempo todo?"

Esta não foi a primeira vez que Trump usou uma linguagem tão pouco diplomática em uma conversa com Netanyahu. Mas, desta vez, o tom de Trump deve ter enervado até mesmo o intransigente líder israelense, convencendo-o finalmente de que este homem em Washington realmente falava sério. Daquele ponto em diante, Benjamin Netanyahu foi finalmente obrigado a se ajoelhar diante do Grande Chefe Branco.

Isso agora está sendo alardeado, principalmente pelo próprio presidente dos EUA, como um sucesso monumental. Mas será mesmo? A guerra em Gaza foi realmente resolvida? Se quisermos responder a essas perguntas, precisamos fazer outras perguntas:

O Hamas realmente se desarmará? Será que os israelenses realmente se retirarão de Gaza, e não apenas recuarão para certas áreas enquanto aguardam a retomada das hostilidades?

Netanyahu finalmente aceitará a existência de um Estado palestino? E o Hamas estará preparado para se retirar completamente de Gaza, deixando-a nas mãos dos chamados "tecnocratas" e de gente como Tony Blair?

Até agora, nenhuma dessas perguntas foi respondida satisfatoriamente.

Novas guerras para substituir as antigas?

Já que estamos falando do Prêmio Nobel da Paz, precisamos fazer algumas perguntas adicionais, já que o perigo de guerra não se limita à Ucrânia e a Gaza.

Recentemente, o Departamento de Guerra dos EUA (como agora é chamado – com uma lógica impecável) convocou uma reunião com cerca de 800 generais, almirantes e comandantes da força aérea, que ouviram discursos de Pete Hegseth, o Secretário de Guerra dos EUA, e do Presidente dos Estados Unidos.

O verdadeiro propósito dessa reunião nunca foi esclarecido. Desde os discursos públicos, não esclarecemos absolutamente nada. Mas também houve outros discursos, que não foram tornados públicos, cujo conteúdo nunca foi revelado.

Qual era exatamente o propósito de convocar uma reunião tão extraordinária?

Convocar um número tão grande de comandantes só faz sentido sob uma condição: eles estão sendo solicitados a se preparar para o combate.

E qual poderia ser o alvo imediato? Há dois candidatos óbvios. Um é a Venezuela. O outro é o Irã.

É claro que não é possível ser preciso sobre isso. Quaisquer previsões quanto ao curso de ação planejado devem inevitavelmente ter um caráter especulativo.

Mas se nos basearmos nos fatos conhecidos, um quadro muito claro começa a emergir. Nos últimos meses, testemunhamos uma campanha barulhenta contra a Venezuela na mídia americana.

Os EUA atacarão a Venezuela? À primeira vista, isso parece uma pergunta muito estranha. Por que os Estados Unidos atacariam a Venezuela? Afinal, a Venezuela não está atacando os Estados Unidos. Nem é um país que represente qualquer ameaça militar real aos Estados Unidos.

Mas agora está sendo travada uma campanha pública de que o governo venezuelano é, na verdade, um cartel de drogas e, portanto, representa uma ameaça aos Estados Unidos.

Isso sugere claramente que um ataque à Venezuela está na ordem do dia.

Essa hipótese recebeu agora uma confirmação bastante contundente em um artigo publicado no The New York Times. Nele, lemos o seguinte:

“O presidente Trump suspendeu os esforços para chegar a um acordo diplomático com a Venezuela, de acordo com autoridades americanas, abrindo caminho para uma potencial escalada militar contra traficantes de drogas ou contra o governo de Nicolás Maduro.”

“A Arte da Negociação”

À primeira vista, a postura agressiva de Donald Trump em relação à Venezuela parece contradizer o fato de ele ter enviado Ric Grenell, enviado presidencial especial e diretor executivo do Kennedy Center, para negociar um acordo com Maduro.

Em geral, o homem na Casa Branca não está inclinado a buscar soluções militares para os problemas. Ele prefere, de longe, chegar a um acordo. Lembremos que Donald J. Trump foi o autor do célebre livro que serve como a Bíblia Sagrada da nova religião do trumpismo, A Arte da Negociação.

Por trás da aparente aversão de Trump a guerras não há nenhum tipo de pacifismo moralista. Ela tem uma base muito mais material, para não dizer cínica. Para resumir: guerras são caras. Um bom acordo é muito mais barato, sempre assumindo, é claro, que tal acordo possa ser alcançado.

Portanto, era bastante natural que ele enviasse Grenell para elaborar um acordo que evitasse a necessidade de um conflito militar desagradável e dispendioso, ao mesmo tempo em que permitisse às empresas americanas o acesso ao petróleo venezuelano.

Por sua vez, Maduro buscava desesperadamente um meio-termo. No mês passado, ele escreveu uma carta a Trump negando que seu país traficasse drogas e se oferecendo para conduzir novas negociações com os Estados Unidos.

Grenell vem negociando há meses, adotando publicamente um tom muito mais conciliador. Mas Rubio e seus aliados no governo Trump têm defendido uma estratégia para tirar Maduro do poder.

Grenell estava, portanto, complicando o trabalho do governo e frustrando seus colegas, como Marco Rubio, que reclamou que os esforços de Grenell eram "inúteis" e "criavam confusão".

Então, de repente, o homem na Casa Branca puxou o tapete debaixo dos seus pés. O New York Times explica como "durante uma reunião com altos líderes militares na quinta-feira, o Sr. Trump ligou para o Sr. Grenell e o instruiu a interromper toda a interação diplomática, incluindo suas conversas com o Sr. Maduro".

Qual foi o motivo dessa decisão repentina? O artigo explica:

"O Sr. Trump está cada vez mais frustrado com a incapacidade do Sr. Maduro de atender às exigências americanas de renunciar ao poder voluntariamente e com a insistência contínua das autoridades venezuelanas de que não têm envolvimento com o tráfico de drogas".

Em um comunicado ao Congresso, o governo Trump afirmou que os Estados Unidos estavam envolvidos em um "conflito armado" formal com os cartéis de drogas. A decisão de suspender a diplomacia foi tomada, com o comunicado sinalizando claramente que os Estados Unidos planejavam intensificar as operações militares.

Os cartéis de drogas, segundo o comunicado, eram organizações terroristas, e os membros dos cartéis que contrabandeavam drogas eram considerados "combatentes ilegais".

Essas palavras só podem ser interpretadas de uma maneira: os Estados Unidos agora consideram que estão em guerra com a Venezuela.

Os verdadeiros objetivos de guerra dos EUA

Até o momento, Washington não apresentou nenhuma evidência satisfatória de que o governo da Venezuela seja, na verdade, apenas um disfarce para um cartel de drogas.

Independentemente do que você pense do governo de Nicolás Maduro, essa acusação ultrajante claramente não tem qualquer fundamento.

Mas, sem dúvida, terá um impacto na opinião pública americana, que pode inicialmente se mostrar tímida em sua oposição a uma campanha militar contra a Venezuela.

Embora se baseiem em uma falsidade evidente, elas fornecem a Washington um casus belli – um pretexto para a guerra – um fato que fica bem claro neste artigo:

“Autoridades americanas afirmaram que o governo Trump elaborou diversos planos militares para uma escalada. Essas operações também podem incluir planos para forçar Maduro a deixar o poder. Marco Rubio, secretário de Estado e conselheiro de segurança nacional, chamou Maduro de líder ‘ilegítimo’ e citou repetidamente uma acusação americana contra ele por tráfico de drogas.

“Rubio descreveu Maduro como um ‘fugitivo da justiça americana’, e os Estados Unidos aumentaram a recompensa por Maduro para US$ 50 milhões.

“Um funcionário da Casa Branca disse que Trump estava preparado para usar ‘todos as alavancas do poder americano’ para forçar Maduro a deixar o poder e impedir a entrada de drogas nos Estados Unidos, e que havia sido claro em suas mensagens a Maduro para acabar com o narcotráfico venezuelano.”

Aqui temos a real intenção por trás da densa cortina de fumaça da propaganda mentirosa, projetada para esconder as intenções agressivas e predatórias da camarilha dominante em Washington.

O objetivo central fica bem claro nessas declarações: é a derrubada do atual governo venezuelano, "para tirar o Sr. Maduro do poder", usando "todos as alavancas do poder americano" para atingir esse objetivo.

Em outras palavras, a intenção é promover uma mudança de regime na Venezuela, com o objetivo de instalar um regime pró-americano em Caracas.

Será possível que isso esteja relacionado à decisão de conceder o Prêmio Nobel da Paz ao líder da oposição de direita na Venezuela precisamente neste momento? Como parece que o comitê do Nobel tomou sua decisão há algum tempo, isso não é de todo inconcebível.

A perspectiva da Venezuela

Recebemos recentemente uma carta de um camarada da Venezuela, que vale a pena citar:

“Trump está preparando o terreno para um ataque dentro da Venezuela. Ele anunciou recentemente que está considerando a ‘segunda fase’ da operação antidrogas no Caribe, e a retórica não se concentra mais apenas em acusar Maduro de ser um narcotraficante, agora fala da ilegitimidade de sua eleição.

“Pode-se pensar que eles estão tentando usar pressão para forçar Maduro a ceder em algo, mas Maduro está disposto a ceder em tudo (petróleo, deportações, etc.), e o que eu acredito é que os Republicanos estão determinados a alcançar uma vitória na política externa enfraquecendo Maduro, além de enviar uma mensagem à China.

“Mesmo assim, acredito que o ataque que eles provavelmente lançarão se limitará a bombardeios com drones ou aviões, o que não significa automaticamente a queda de Maduro. Mas tais bombardeios aumentariam a pressão por uma ruptura.”

Washington aumenta constantemente a pressão sobre Maduro, que, de fato, recua constantemente. Mas isso só demonstra fraqueza, e a fraqueza sempre convida à agressão.

Uma invasão terrestre seria uma proposta muito arriscada, e as forças atualmente disponíveis para tal ataque são claramente insuficientes para esse propósito. Tudo indica que o primeiro ato será seguido por algum tipo de ataque aéreo.

O próximo passo pode muito bem ser atacar os líderes da Venezuela. É uma tática aperfeiçoada pelos israelenses, conhecida como "exercício de decapitação". Isso, como devemos nos lembrar, foi realizado pelos israelenses nos primeiros estágios dos ataques com mísseis contra o Irã.

Por meio do bombardeio de alvos selecionados – especialmente prédios governamentais – eles visam criar uma crise no regime. Eles esperam que isso leve a algum tipo de golpe militar que derrube Maduro.

Para facilitar esse objetivo, eles colocaram um preço de US$ 50 milhões pela cabeça de Maduro. Uma oferta tentadora para o alto escalão das Forças Armadas da Venezuela, que são conhecidas por sua devoção aos prazeres da vida, da liberdade e, acima de tudo, do enriquecimento pessoal.

Uma mudança de regime pode ter êxito?

É impossível dar uma resposta definitiva a essa pergunta. Depende de muitos fatores, especialmente do moral das massas, que no passado sempre forneceu um sólido baluarte contra a reação. Mas os tempos mudaram.

O governo venezuelano declarou estado de emergência. Está tentando mobilizar suas forças, convocando reservistas e tomando outras medidas defensivas.

Mas a Venezuela está em condições de resistir a um ataque das forças americanas? Isso não está nada claro. Nicolás Maduro há muito tempo abandonou qualquer pretensão de defender o programa original da Revolução Bolivariana, defendido pelo falecido Hugo Chávez.

Sob o governo de Maduro, os ricos ficaram mais ricos e os pobres cada vez mais pobres.

Embora ainda reivindique o nome de Chávez e da revolução, é agora um regime de bonapartismo burguês, que se equilibra entre as classes, mas constantemente se volta para a direita, atacando as conquistas da revolução e os direitos dos trabalhadores e camponeses.

À medida que as massas se sentem alienadas e deprimidas, o apoio ao governo diminui, forçando-o a se agarrar ao poder pelo simples artifício da falsificação de resultados eleitorais.

É verdade que tentativas anteriores do imperialismo americano de engendrar uma mudança de regime na Venezuela fracassaram, principalmente devido à contínua lealdade de grandes setores das massas à memória da revolução.

Mas a lealdade das massas não pode ser considerada garantida. E agora deve haver muito cansaço, decepção e desmoralização.

Um regime bonapartista acaba descobrindo que sua única base confiável de apoio reside no próprio aparato estatal, e particularmente nas camadas superiores do exército e das forças de segurança.

A falha mais fatal da política de Chávez sempre foi a de depender do apoio de generais cuja lealdade ele acreditava ter assegurado, em parte por meio de apelos ao patriotismo, mas principalmente por meio de generosas recompensas econômicas e uma vida privilegiada.

Mas, em última análise, tal apoio nunca pode ser considerado seguro. Os imperadores romanos que dependiam do apoio de uma Guarda Pretoriana privilegiada e mimada frequentemente se viam suspensos nas pontas das lanças desses mesmos guardiões.

Em tempos mais recentes, o destino de Salvador Allende, que dependia do apoio de generais "leais" e "democráticos" como Pinochet, é bem conhecido.

Divisões em Washington

Uma das razões pelas quais é tão difícil prever as ações de Donald Trump é que ele balança continuamente, oscilando descontroladamente, ora em uma direção, ora em outra, de acordo com as pressões que recebe de ambos os lados.

Isso explica a natureza frequente e abrupta de seus ziguezagues no campo da política externa. Assim como nos casos da Ucrânia e do Oriente Médio, na questão da Venezuela ele está sujeito a diferentes pressões.

Há sinais claros de divisões dentro do governo Trump. O New York Times afirma que:

“Os defensores da diplomacia dentro do governo Trump temem que qualquer expansão adicional da campanha antinarcóticos para a própria Venezuela, ou qualquer esforço direto para expulsar o Sr. Maduro do poder, possa envolver os Estados Unidos em uma guerra mais ampla.”

A decisão final de intervir militarmente contra a Venezuela já foi tomada? É impossível dizer. Mas, neste momento, tudo aponta para tal ação.

No Pentágono, alguns advogados militares, incluindo especialistas em direito internacional, levantaram preocupações sobre a legalidade dos ataques letais contra suspeitos de tráfico de drogas.

O governo Trump, por meio do Gabinete de Assessoria Jurídica do Departamento de Justiça, produziu um parecer jurídico confidencial que justifica ataques letais contra "uma lista secreta e extensa de cartéis e suspeitos de tráfico de drogas", de acordo com uma reportagem publicada pela CNN.

O parecer argumenta que o presidente tem permissão para autorizar o uso de força letal contra uma ampla gama de cartéis, visto que eles representam uma ameaça iminente aos americanos. Essa lista de cartéis vai muito além da lista do governo de organizações publicamente designadas como terroristas.

Este parecer jurídico parece justificar uma guerra sem fim contra uma lista secreta de grupos, dando ao presidente o poder de designar traficantes de drogas como combatentes inimigos e matá-los sumariamente sem revisão legal.

Qual é a nossa atitude?

Os eventos já estão se desenrolando no Caribe. Mesmo enquanto as negociações pareciam estar chegando a uma solução, os militares dos EUA entravam em ação, atacando e afundando barcos acusados ​​de traficar drogas em nome do governo venezuelano.

A ideia de que o imperialismo norte-americano enviaria uma frota poderosa ao Caribe, apenas para afundar algumas pequenas lanchas que supostamente traficavam drogas, é claramente insustentável. Objetivos muito mais sérios devem estar sendo considerados.

Deixamos bem claro em material anterior que não temos absolutamente nenhuma confiança em Nicolás Maduro, em suas políticas ou em seu governo.

Tudo isso é verdade. Mas a derrubada deste regime não pode ser confiada às mãos dos gângsteres imperialistas de Washington e seus agentes locais, que escondem suas intenções contra revolucionárias por trás da falsa máscara de "restaurar a democracia".

Os verdadeiros objetivos de Washington são perfeitamente claros. A perspectiva de uma renovação da guerra contra o Irã – algo que continua na agenda – inevitavelmente levanta o espectro de uma crise geral no Oriente Médio, de uma grave interrupção da produção de petróleo e da perturbação do comércio, levando a um forte aumento no preço da energia.

Isso terá consequências extremamente graves para a economia mundial e, portanto, também para os Estados Unidos. A tentação de se apoderar das consideráveis ​​reservas de petróleo da Venezuela deve, portanto, ser um elemento muito sério nos cálculos de Trump.

Os americanos pretendem tomar o controle da riqueza petrolífera da Venezuela e colocar o país à mercê dos monopólios predatórios dos EUA.

Tal desenvolvimento jamais poderá representar os interesses do povo venezuelano. Essa agressão deve ser combatida por todos os meios possíveis.

No entanto, há um motivo ainda mais poderoso para a conduta agressiva dos Estados Unidos. É o medo americano de perder o controle da América Latina como resultado da rápida expansão da presença chinesa. O imperialismo norte-americano sente a necessidade de exercer sua influência para demonstrar seu poder econômico e militar, a fim de conter o avanço da China. Seu objetivo é intimidar os governos da América Latina e obrigá-los a romper com a China e se submeter aos ditames de Washington.

Foi nossa corrente que primeiro lançou a palavra de ordem "Tirem as Mãos da Venezuela!". Essa palavra de ordem agora se torna uma necessidade imperativa.

Nossa posição ficou esclarecida em declarações das seções norte-americana e venezuelana da Internacional Comunista Revolucionária, emitidas assim que começou a transferência de ativos militares norte-americanos para o Caribe.

Os Estados Unidos se encontram empantanados em uma dinâmica infernal, da qual parecem incapazes de se retirar. Por uma espécie de lógica fatal, independentemente de suas intenções, Trump está sendo implacavelmente empurrado na direção de novas guerras.

O que resta agora do homem que se dizia o candidato da paz? O homem que iria pôr fim ao envolvimento dos Estados Unidos em "guerras eternas"? A essa altura, essas observações têm um tom irônico.

Pode haver muitas surpresas na política, assim como na própria vida. Há uma campanha ruidosa para conceder o Prêmio Nobel da Paz a Donald Trump. No passado, houve ocasiões em que o Comitê do Prêmio Nobel concedeu o prêmio a dois candidatos. É possível que façam isso novamente?

Isso seria um pouco como conceder o Prêmio Nobel da Paz ao Conde Drácula da Transilvânia por serviços prestados à causa dos serviços internacionais de transfusão de sangue.

Imagino que coisas ainda mais estranhas já tenham acontecido. E, diante da falta de lógica de tal decisão, temos que pesar o grau infinito de covardia e servilismo dos líderes europeus em geral, e dos escandinavos em particular.

Quem sabe o que acontecerá em tais circunstâncias? No entanto, provavelmente é cedo demais para Donald Trump embarcar no avião para Oslo para receber seu prêmio.

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