Brasil: Vitorioso e Histórico Ato do MNS contra o Racismo e as Leis Raciais Portuguese Share TweetMais de 100 militantes anti-racistas negros, sindicalistas, lideranças do movimento popular e parlamentares, realizaram protesto histórico nas escadarias do Teatro Municipal de São Paulo.Dia 16 de maio de 2009 entrou para a história do movimento operário e democrático na luta contra o racismo e o racialismo. Convocados pelo Movimento Negro Socialista, mais de 100 militantes anti-racistas negros, sindicalistas, lideranças do movimento popular e parlamentares, realizaram protesto histórico nas escadarias do Teatro Municipal de São Paulo.Apesar da manhã fria e com garoa, o Ato contra as leis raciais contou com a presença de delegações de diversos estados e várias cidades do interior de São Paulo.Justamente na semana da abolição da escravidão as lideranças presentes reafirmaram a luta contra as leis raciais (Projeto de Lei das cotas raciais PL 73/99 e PL 6264/05 “Estatuto da Igualdade Racial”). Os dois projetos estão em tramitação no Senado (cotas raciais) e na Câmara (Estatuto da Igualdade Racial) e só houve a abertura da discussão para amplos setores da sociedade após nossa intervenção em conjunto com intelectuais que se opõem às políticas racialistas.A primeira oradora foi a estudante Estéfane Emanuele, da Universidade Federal do Mato Grosso, logo depois o Vereador do PT de Joinville-SC, Adilson Mariano, lembrou que “a luta pela igualdade e contra o racismo não podem estar separadas. A luta pelas reivindicações é a mesma luta contra a opressão e com certeza o racismo é uma das principais ideologias das elites para dividir o povo trabalhador. Nosso mandato apoiará com todas as energias as lutas contra o racismo e as leis raciais. Os companheiros do MNS estão 200% apoiados por nosso mandato.”Relembrando a luta histórica contra o racismo e do movimento negro, militantes históricos, como o Advogado José Roberto Militão, relembraram a importância histórica do Ato, disse que “foi neste local que, em 1978, cercados de policiais centenas de militantes negros despertaram em mim e em toda uma geração a compreensão da luta anti-racista (...) Quero também relembrar a posição e a coerência da luta de Malcom X, que nos EUA levou ao desenvolvimento de sua posição, inclusive chegando a ficar contra as políticas de ações afirmativas, o que custou sua vida, levada por assassinos “racialistas” negros dos EUA.”Também Almir da Silva Lima, jornalista de Macaé-RJ, militante desde 1974 do movimento negro e fundador do MNU (Movimento Negro Unificado), denunciou os militantes que abandonaram a luta pela igualdade em troca de cargos em governos ligados a fundações bilionárias geridas pelo grande capital internacional e que controla milhares de ONGs. “Eles abandonaram a luta pela igualdade e pelo socialismo”, alertou Almir.Roque Ferreira, vereador pelo PT em Bauru-SP e coordenador nacional do MNS, denunciou o Estatuto da Igualdade Racial que pode aprofundar o racismo que hoje já existe: “a terceirização levou à demissão de milhares de ferroviários que em sua maioria são negros e agora muitas dessas ONGs que defendem as cotas raciais são patrocinadas por empresas que fizeram essas demissões. Não é possível uma política de inclusão em um sistema que todos os dias exclue, demite e joga a crise nas costas dos trabalhadores, principalmente os de pele escura”.O ânimo dos participantes era de muita combatividade. As pessoas que passavam ouviam e aplaudiam os oradores entusiasticamente. Serge Goulart, dirigente da Esquerda Marxista do PT, declarou “estar orgulhoso do apoio da Esquerda Marxista a este ato e à luta do MNS contra o racismo e as leis raciais. Não existem ‘raças humanas’, a única divisão na sociedade é aquela que separa os que tudo tem daqueles que só tem as correntes da exploração. Nós lutamos por uma sociedade onde todos tenham igualdasde de fato, nós lutamos pelo socialismo.”Encerrando o ato, o coordenador nacional do MNS, José Carlos Miranda, fez um balanço positivo dos combates realizados desde a constituição do MNS: “Em Dezembro de 2005 o Estatuto da Igualdade Racial foi aprovado por unânimidade no Senado. No dia 29 de Junho de 2006, junto a sindicalistas, parlamentares, intelectuais, artistas, entregamos a Carta Aberta ao Congresso Nacional. Nossa carta escancarou a discussão para a sociedade. Arrancamos várias audiências na Câmara dos Deputados e no Senado, debates em todo o país, ações na justiça com sentenças baseadas em argumentações de artigos do livro ‘Divisões Perigosas’ - livro que reuniu intelectuais, artistas e dirigentes sindicais de variadas posições politicas. Reunimos novamente mais amplamente ainda na carta ‘113 anti-racistas contra as leis raciais’ que foi entregue ao Supremo Tribunal Federal . Nos orgulhamos desta frente que colocou na agenda nacional esta discussão, estamos apoiados por pesquisas que comprovam que a maioria do povo brasileiro rejeita a divisão das políticas racialistas, as cotas raciais. Companheiros , amigos e apoiadores realizamos 3 reuniões nacionais sem financiamento de nenhum governo ou ONGs. Nossas atividades são financiadas por nossos apoiadores, por sindicatos, associações, ou seja, temos total independência para continuar a luta por nossa plataforma e bandeiras de luta. Logo mais à tarde, realizaremos nossa 4ª Reunião Nacional e com certeza continuaremos firmes e confiantes no combate contra essa odiosa ideologia do racismo criada por teorias científicas que hoje estão completamente ultrapassadas. Os homens e mulheres aqui presentes carregam o legado de todos aqueles que lutam por igualdade e por uma sociedade sem explorados e exploradores. Os racistas que criaram a existência de ‘raças humanas’ para fundamentar a existência do racismo serão derrotados. A nossa luta é por vagas para todos, por serviços públicos gratuitos e de qualidade, por trabalho igual salário igual, por emprego e salário digno, pelo fim da truculência policial nas periferias, principalmente contra a juventude. Nós lutamos pelo fim de toda opressão e exploração. Nós continuamos convictos que ‘racismo e capitalismo são faces da mesma moeda’.”Pouco antes do meio-dia, os participantes saíram em paseata pelo “calçadão” do centro de São Paulo até o local onde seria realizada a 4ª Reunião Nacional.Foi realizado um balanço das atividades do MNS no último ano e as próximas atividades da luta contra as leis raciais, em especial a campanha nacional por uma PEC (Proposta de Emenda Constitucional) que proíba a criação de leis baseadas em direitos diferenciados com base em “raças”, cor de pele, religião.Também foi delegada à Coordenação Nacional eleita a tarefa de elaboração de novas cartilhas do MNS, de um documentário em DVD para continuar o debate e a discussão em todos lugares explicando as bandeiras e posicionamentos do MNS e apoiando a luta do povo trabalhador.No encerramento da reunião, as delegações presentes voltaram com energia redobrada para prosseguir na luta. Somos todos irmãos trabalhadores, abaixo o racismo e as leis raciais!