Alguns comentários sobre o Encontro de Intelectuais e Artistas em Defesa da Humanidade Portuguese Share Tweet Portuguese translation of Some remarks on the International Gathering of Intellectuals and Artists In Defence of Humanity by Alan Woods (October 16, 2006) De 11 a 13 de outubro, teve lugar no prédio da FAO, em Roma, o Quarto Encontro de Intelectuais e Artistas em Defesa da Humanidade. Estavam presentes intelectuais de muitos países, representando diferentes pontos de vista, mas unidos em sua preocupação com a crise que está afetando o mundo inteiro e ameaçando o futuro da civilização, da cultura, do meio ambiente e possivelmente a própria sobrevivência da raça humana. A crise do capitalismo se manifesta de diferentes formas: guerras, terrorismo que se difunde como uma epidemia incontrolável, altos níveis de desemprego, morte de oito milhões de pessoas a cada ano devido à pobreza, o saque do planeta pelas gigantescas corporações, a ameaça à arte e à cultura devida à comercialização capitalista, a violência que atinge as mulheres e as crianças, drogas e alienação da juventude - enfim, todos estes temas que interessam a um número crescente de pessoas, não necessariamente de esquerda ou marxista. A idéia de se convocar um foro para uma discussão séria dos problemas que afligem o planeta foi uma iniciativa positiva. Os marxistas estão sempre preparados para iniciar um diálogo com gente honesta, mesmo com idéias diferentes, que está procurando soluções para os graves problemas que afligem a raça humana. Mas a utilidade de tais discussões depende, no final das contas, da boa vontade dos participantes em entender as causas fundamentais desses problemas e em realizar um programa sério de ação para combatê-las. Caso contrário, tais debates se tornarão meros clubes de discussão que não levarão a nada. Os mais importantes promotores deste foro são Cuba e Venezuela, dois países que se posicionam na vanguarda da luta contra o imperialismo. A sessão final foi presidida por Rodrigo Chaves, o ministro venezuelano de assuntos exteriores para a Europa, e o Comitê Organizador Cubano esteve representado por Yamila Cohen. Entre os presentes estavam James Petras, Eva Golinger (a autora de The Chavez Code), o conhecido economista cubano Osvaldo Martinez, que recentemente convocou um debate sobre as idéias de Bukharin, Preobrazhensky e Trotsky, e seu colega cubano Carlos Tablada, que editou os escritos econômicos de Che Guevara, nunca antes publicados, que contêm uma crítica às teorias econômicas do estalinismo, e muitos outros intelectuais de esquerda, escritores e artistas. Sem dúvida, a Revolução Venezuelana deu nova vida à luta contra o imperialismo e o capitalismo em todo o mundo. As declarações do Presidente Chavez a favor do socialismo têm estimulado as discussões, particularmente (mas não somente) na América Latina. Seu recente discurso na ONU, em que a denunciou como uma organização dominada pelo imperialismo que não pode ser reformada, foi outro importante passo a frente. Depois da queda da URSS, há um grande número de ex-comunistas, ex-maoístas, ex-socialistas e ex-marxistas, muitos dos quais encontraram empregos confortáveis na mídia, em universidades e ONG's, que abandonaram completamente o socialismo e qualquer projeto de lutar contra o capitalismo. Estas pessoas devem justificar sua apostasia com atitudes cínicas. O seu único objetivo na vida parece ser o de disseminar o ceticismo e o pessimismo no seio da geração mais jovem. Dessa forma, se transformaram numa barreira no caminho da revolução socialista. Mas, depois das declarações do Presidente Chavez, agora é impossível (ou, em qualquer caso, mais difícil) para os elementos reformistas argumentarem contra qualquer menção ao socialismo. Por essa razão, eles têm apelado para todo tipo de argumentos "engenhosos" e sofísticos para atacar o socialismo. É evidente para alguns pensadores sérios que a causa fundamental da presente crise mundial é a crise de senilidade do capitalismo. Este fato foi claramente colocado na resolução apresentada pela comissão da qual fiz parte, e adotada na sessão plenária. A mesma declaração de princípios colocou que a alternativa real diante da humanidade, na primeira década do século XXI, é socialismo ou barbárie. Estas claras formulações representam um grande passo à frente em relação às vagas formulações do passado. Outros pontos positivos foram os claros chamados à luta contra o imperialismo, à defesa das revoluções venezuelana e cubana etc. Contudo, em outros aspectos as decisões do encontro foram insatisfatórias. Foram feitas concessões aos elementos liberais de classe média que aguaram a mensagem revolucionária, levando a um confuso e ambíguo resultado. No geral, contudo, a esquerda conseguiu empurrar o movimento para frente, para mortificação dos elementos burgueses. Um americano (não consigo lembrar quem) lamentou-se que, enquanto ele nada tinha em princípio contra a fórmula de socialismo ou barbárie, não obstante suprimiria isto e colocaria em seu lugar alguma fórmula menos precisa. Sua proposta foi rejeitada. Debates semelhantes tiveram lugar em cada comissão e algumas vezes assumiram um caráter aguçado. Os elementos liberais, que tinham abandonado completamente o socialismo e a luta de classes em favor de políticas reformistas e ONG's, estão lutando para deter o movimento revolucionário mundial e para disseminar a confusão, o ceticismo e a desmoralização. Eles desejam desviar o movimento de seu caminho revolucionário e levá-lo pelo caminho inofensivo de pequenas reformas e "boas ações" que nem ameaçam o capitalismo nem resolverão os sérios problemas que estão enfrentando milhões de homens, mulheres e crianças. Eles tentam apresentar este embuste reformista como ações "concretas", opondo-as à alegada "utopia abstrata" dos marxistas. O suposto "realismo" dessas pessoas reduz-se ao seguinte: eles querem que o capitalismo continue, mas gostariam que ele tratasse as massas mais gentilmente. Eles querem "capitalismo com face humana". Um desses liberais argumentou seriamente que o FMI e o Banco Mundial poderiam ser "controlados" de tal forma que servissem aos interesses das pessoas pobres e não dos ricos! Este é o "realismo" de alguns que desejam ensinar ao tigre a comer alface em vez de carne. Mas o impulso mais importante do movimento que está agora emergindo em todos os países não é nessa direção. Em todos os lugares a resistência contra o imperialismo e o capitalismo está crescendo e não é possível separar os dois fenômenos. O capitalismo, em determinado estágio, necessariamente se expressa como imperialismo, como Lênin explicou. O imperialismo é a essência destilada do capitalismo, e o racismo e o fascismo são a essência destilada do imperialismo. Outra característica negativa que emergiu, com monótona regularidade, em alguns dos debates foi a tentativa de colocar o "norte" contra o "sul", países "ricos" contra países "pobres" - como se não existissem um monte de pessoas pobres nos EUA (lembrem-se do furacão Katrina!) e um monte de ricos parasitas e exploradores na África, Ásia e América Latina. Para defender os interesses dos países pobres contra a exploração imperialista é necessário conduzir uma luta implacável contra o imperialismo. Esta é uma proposição elementar. Mas esta luta somente pode ter êxito se estiver intimamente ligada à luta revolucionária pelo socialismo em escala mundial. Isto pressupõe a luta pela união de todos os trabalhadores de todos os países, acima de todas as diferenças nacionais, raciais, lingüísticas, culturais e religiosas. Qualquer tentativa de dividir os povos explorados do mundo neste caminho apenas os coloca nas mãos do imperialismo e das oligarquias reacionárias que são somente os moleques de recado locais do imperialismo. No final da conferência, a presidente venezuelana do evento, Carmen Bohorquez, disse uma grande verdade quando mencionou que intelectuais e artistas não deveriam exagerar o papel que eles podem desempenhar na luta de classes: no fim das contas, serão as massas que mudarão a sociedade. Isto é completamente certo. Mas também está certo que o melhor da intelligentsia pode desempenhar um importante papel no movimento revolucionário, sob uma condição: que estejam preparados para romper radicalmente com a burguesia e com a ideologia burguesa e que se coloquem sem reservas sob o ponto de vista da luta da classe trabalhadora por sua emancipação e de toda a humanidade.