A luta contra a opressão: unidade da classe trabalhadora ou políticas identitárias? Share TweetPublicamos aqui a intervenção do camarada Chico Aviz, militante da Organização Comunista Internacionalista do Brasil, na sessão sobre "A luta contra a opressão: unidade da classe trabalhadora ou política de identidade?" na Escola Mundial de Comunismo. Olá, camaradas!Me chamo Chico Aviz, sou militante da seção brasileira da Internacional Comunista Revolucionária.No Brasil, 68% das pessoas encarceradas são negras.Contabilizando todo o sistema prisional, são praticamente 833 mil negros presos.Nos estados mais violentos do país, 87% dos mortos pela polícia são negros.Esses números explicitam o quão crucial é nossa palavra de ordem: "Ser Negro Não É Crime"!Ao exigir que parem de nos matar, explicamos que o capitalismo, ao transformar inclusive os corpos humanos em mercadorias, desenvolveu um método fundamental para seu funcionamento: a ideologia segregatória das raças humanas.Como sabem, o racismo foi inventado pelo capitalismo, ideologicamente impulsionado nos séculos 18 e 19 por pseudociências a serviço da burguesia e seus defensores. Estes utilizaram, por exemplo, a taxonomia de Carlos Lineu para estabelecer divisões “biológicas” na espécie humana, tentando justificar as novas formas de expropriação material dos negros.Neste sentido, tal ideologia serviu para “explicar” o porquê a Europa superava as opressões do Antigo Regime enquanto o Brasil seguia com a escravidão negra até 1888.As intensas e permanentes revoltas sociais arrancaram a abolição da escravidão negra assegurada pela monarquia luso-brasileira. Porém, não retiraram os negros do cárcere, da miséria e do açoite.No Brasil, a condição sub-humana imposta aos negros seguiu como regra para a burguesia nativa e seu Estado atrasado.Em 2024, este sistema mantém os negros ocupando 46% dos empregos informais, sem direitos trabalhistas e nas piores condições de existência.Também mantém o trabalho igual com salário desigual, onde as mulheres negras recebem 38% menos que as demais mulheres e homens negros recebem 40% menos que homens não negros.Da mesma forma, das 49 milhões de pessoas que vivem sem saneamento básico, 70% são negras ou indígenas.São alguns dos dados que evidenciam a miserável condição da população negra no Brasil.Nos é evidente que desde a escravidão iniciada nos anos 1530 até o tempo presente com o assalariamento, o fio condutor é o modo de produção capitalista, do mercantilismo ao imperialismo.Naturalmente, tamanha exploração material também desfigura subjetivamente essa população despojada de sua existência e história.Mas não se bastasse as violências diretas e indiretas da burguesia, os negros são também açoitados pela racialização de “esquerda”.Em uma sociedade com estes dados chocantes, as chamadas políticas afirmativas e de identidade reverbera e seduz, em especial, a juventude negra.Mas precisamos ir na raiz e denunciar. As políticas de “ações afirmativas” foram desenvolvidas nos pelo Departamento de Estado dos EUA e disseminada por seus intelectuais para o mundo, a partir do Plano de Filadélfia de 1969, sob o governo Richard Nixon.Seu objetivo, explícito na raiz de suas formulações, é manobrar o Movimento Negro, controlar as revoltas sociais e dividir a classe trabalhadora em disputas individuais e “raciais” entre brancos e negros.Por isso, para os comunistas, combater a imposição de “raças” humanas e suas derivações culturais é fundamental!Estas políticas de identidade buscam mascarar a exclusão e morte da população negra à serventia de uma ínfima pequena-burguesia negra, formada e agraciada pelas cotas liberais.Esta camada privilegiada, aceita e integrada pela burguesia, busca vocalizar todo o conjunto dos trabalhadores negros como se estes estivessem contemplados por suas "representatividades negras".Com estas ações e as teorias pós-modernas alheias ao proletariado, o racialismo se aperfeiçoa dia a dia.Seus “intelectuais” aprofundam a ideia de raças humanas forjando um “espírito” e uma “essência” negra, o que chamam de “negritude”. Esta seria capaz de se opor à “branquitude”, a “essência” branca.É a “face negra” do romantismo europeu e reacionário dos séculos 18 e 19, que contraria a igualdade universal entre os humanos e reforça as fantasias nacionalistas e racistas.Diante disso, nós comunistas devemos rasgar o véu do idealismo subjetivo que baseiam as teorias pós-modernas e “decoloniais”.Combatemos o racismo e o racialismo com o materialismo histórico-dialético e um programa político de expropriação geral da burguesia internacional.Por isso afirmamos que:Não queremos cotas: queremos universalização do ensino, pleno emprego e moradia digna!Não queremos a reforma das polícias: queremos o fim do braço armado do Estado burguês!Não queremos a “essência” de um povo: queremos acesso a todas as culturas e integração soberana dos povos!Camaradas, a luta dos pretos, mestiços, indígenas e todos os grupos segregados pelo capitalismo é a luta da revolução permanente pelo comunismo internacional!Para tanto, é tarefa da Internacional Comunista Revolucionária apresentar um programa de transição contundente e proletário para estes trabalhadores historicamente subjugados, visando a completa unidade de nossa classe!Ser Negro Não É Crime!Viva o Comunismo Internacional!